Esse estranho título – Igreja, túmulo de Deus? –, que
pode parecer uma ofensa aos mais sensíveis, está longe de sê-lo. É apenas uma
brincadeira com uma passagem de Nietzsche, em A gaia ciência, onde
um louco faz a famosa afirmação de que Deus está morto.
O livro é de 1967, e foi escrito pelo padre holandês Robert Adolfs. A
data da publicação talvez faça pensar que são reflexões anacrônicas. Não são.
Mas é obvio que o livro precisa ser lido com os olhos e o coração na atualidade.
Precisa também ser lido tendo como horizonte reflexivo todas as igrejas
cristãs, e não somente a Igreja Católica, como fez o autor.
O livro faz uma reflexão sobre a relevância do Cristianismo em seu
contexto. Teologicamente falando, foi escrito no calor do desenvolvimento das
teologias da secularização, cujo resumo tem a ver com reflexões sobre o lugar
da religião (especialmente o Cristianismo) nas sociedades modernas, em processo
avançado de secularização. Para o autor, as referidas propostas teológicas a
este problema são insuficientes e insatisfatórias. Alguns interlocutores
criticados são R. Bultmann, P. Tillich, Harvey Cox e P. Van Buren.
No meu modo de entender, a relevância e a atualidade do livro se
encontram no diagnóstico apresentado por seu autor. Para ele, o problema do Cristianismo
moderno tem a ver com seu projeto de poder. É daí que procedem seu desgaste e
sua irrelevância no mundo atual. A alternativa apresentada Adolfs, que
permanece vigente hoje, é apenas esboçada no livro. Ele a chama de “Igreja
kenótica”, explorando o hino cristológico de Filipenses 2,5-11.
Kenósis é um verbo grego que quer dizer “esvaziar-se”. Portanto, segundo
o autor, é se esvaziando de todas as formas de poder, presentes desde a relação
entre clérigos e leigos, até a relação das igrejas com a sociedade, que o
Cristianismo pode manter a relevância de sua mensagem e de sua vocação no
mundo. Para o momento em que vivemos, creio que essa é uma reflexão muito atual
e muito bem-vinda. O projeto de poder dos diferentes Cristianismos na
atualidade, para mim, é um problema de primeira ordem, e que extrapola
inclusive os muros da própria Teologia.
O livro é muito bem escrito. A tradução parece muito bem feita, o que
facilita muita coisa. Indico bastante a quem ainda acha que essas coisas são
importantes.
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