
Não obstante, a
pensar com as categorias político-conceituais “esquerda” e “direita”, tudo o
que fiz até aqui tem ligação com o que se chama “pensamento de esquerda”. E
isso de forma consciente, como um ato de escolha.
Descobri o
pensamento de esquerda por meio da fé religiosa, especialmente por meio da
Teologia da Libertação. Primeiro, uma reflexão evangélica sobre a pobreza e sua
superação. Depois, muitas reflexões evangélicas sobre outros sujeitos oprimidos
por nossa estrutura social: negros, mulheres, religiões não-cristãs, povos
originários e lgbts. O marxismo veio a reboque. Com a Psicologia, tomei
consciência de outros sujeitos silenciados pelas estruturas de poder, como as
pessoas com transtornos mentais. Tudo sempre azeitado por pensadores de
esquerda.
A adesão dada ao
projeto do PT, no meu caso, sempre foi uma maneira de permanecer coerente com
minhas opções pessoais. Sem nunca atribuir um papel messiânico a ninguém, o PT
era indubitavelmente aquilo que, em termos de política partidária, se
aproximava do tipo de visão de mundo que eu escolhi.
Resumindo:
primeiro a visão de mundo, de ser humano, de política e de sociedade; depois,
as adesões político-partidárias.
Se as visões de
mundo são bastante relativas, podendo mudar durante a história de vida de um
indivíduo, as opções concretas (político-partidárias) muito mais. Parece-me que
o próprio PT se relativizou. Como diria o Frei Betto, mordido pela mosca azul,
o PT se reprovou na prova do poder.
Contudo, jamais
darei adesão ou me vincularei a nenhum tipo de pensamento que flerte com o
retrocesso, com o conservadorismo, com o reacionarismo visto nos últimos dias
no Brasil. Não será em nome de nada – nem a decepção com o PT, nem a crise pela
qual passa o país atualmente – que me vincularei ao sentimento de saudade da
ditadura militar, ao pensamento único de qualquer teor, a intervenções
políticas antidemocráticas e anticonstitucionais em relação ao processo
eleitoral, ou à restrição de liberdades fundamentais de nossa vida política. No
meu itinerário não há desvios pela direita.
Jamais me
vincularei a um movimento cujo simbolismo remete à data da posse dos
presidentes militares: 15 de março. Jamais me vincularei a um movimento
fomentado pela Rede Globo de forma tão ideologizada. É urgente e necessário
reinventar a vida política do país, moralizar o Executivo e respaldar as
Instituições. Mas nada disso deve ser confundido com o retrocesso a um tempo
nefasto, página imunda da História do Brasil.
Se o que estamos
vendo é o colapso de um projeto político-partidário específico – e só o tempo
dirá! –, o momento é de reinvenção. Se o PT de hoje representa uma traição aos
ideais de esquerda sobre os quais foi construído, então eu me vincularei a quem
estiver disposto a construir novas alternativas aos mesmos ideais.
Partidariamente sou um homem livre, graças a Deus!
Inegavelmente,
os governos Lula-Dilma promoveram as mudanças mais profundas na sociedade
brasileira desde a redemocratização do país. O tempo dirá se esse projeto se
esgotou. Caso seja assim, há muito que fazer, exceto retroceder.
Na fé religiosa,
na atividade acadêmica, no pensamento político como um todo, meu caminho é
orientado pelos mesmos valores.
Meu caminho é pela esquerda, sempre !!!
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