sábado, 23 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA PRA VOCÊ !!!


No ano de 1999, quando eu ingressei no curso de Teologia do Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNe), em Feira de Santana-BA, o recém reitor Dr. Ágabo Borges havia feito um gesto que encheu aquela comunidade acadêmica de suspeições e inquietações. Ele havia colocado um toco morto de árvore no meio do jardim do seminário. Era um toco velho, volumoso, sem vida, que destoava completamente da grama bem cuidada e das grandes e frondosas árvores que havia ali.

Logo começaram os falatórios. “Deve ser mania de alemão”, diziam uns. É que nosso recém reitor havia feito suas pós-graduações em Teologia (mestrado e doutorado) na Alemanha. E os falatórios seguiam nos corredores, na cantina, nas salas de aula. Mas ninguém se atreveria a questionar o gesto de um Doutor em Teologia formado na Alemanha. E o toco ficou lá no meio do jardim, inerte, feio, contrastando com um fundo de beleza e cuidado. Parecia que a morte havia marcado um ponto em meio à vida.
Com o tempo, algo aconteceu. Ramagens iam aparecendo ao redor daquele toco por todos os lados. Pareciam trepadeiras. No início, apenas folhas. Depois, pequenas flores que tomavam todo o toco. Em alguns meses aquele toco estaria todo tomado por ramagens e flores, de tal maneira que mal se podia vê-lo. Viam-se as ramagens e as flores, numa composição botânica difícil de entender para quem não tivesse visto o toco anteriormente. Numa das lecções – que são os cultos semanais que acontecem nos seminários de teologia evangélica – o reitor dedicaria um sermão para, finalmente, explicar o simbolismo de seu gesto. Era o triunfo da vida sobre a morte. O toco era um sacramento. Apontava para a esperança principal da fé cristã: a vitória da vida sobre a morte.
Os discípulos haviam perdido completamente a esperança logo após a crucificação de Jesus de Nazaré. Como a maioria de nós hoje, eles haviam chegado à conclusão de que os poderes da morte são grandes demais para serem derrotados. O Império Romano havia vencido mais uma vez. O sonho com uma sociedade diferente – modelada conforme o símbolo “Reino de Deus” – havia sido derrotado definitivamente. Portanto, a ressurreição de Jesus na manhã do domingo havia sido a ressurreição deles também. E ela os atingiu com tanta força que o sonho com uma nova sociedade tornou-se universal.
Vivemos hoje numa sociedade bastante necrófila. Domesticar os terrores da morte sempre foi um desejo profundo do coração humano. Historicamente, temos feito isso de diversas maneiras: pela religião, pela ciência, às vezes pela arte. Mas acredito que no afã de domesticar os terrores da morte, nossa sociedade caiu no outro extremo de sua banalização. Hoje, a morte é algo que cultivamos. Creio que eventos como o de Realengo, por exemplo, têm muito mais relação com uma cultura que cultua a morte do que com determinantes psiquiátricos. É difícil crer que estejamos perto de ultrapassar a cultura de morte que nos cerca hoje em dia.
A Páscoa é o dia para lembrarmos que nossa vocação é crer no triunfo da vida. É o dia para lembramos que a ressurreição de Jesus Cristo é a resposta de Deus a uma conjuntura específica de morte: aquela imposta pelo imperialismo de Roma. A ressurreição de Jesus Cristo é o símbolo da opção pela vida. É o dia para que nós, cristãos de todo mundo, nos lembremos que se o enfrentamento da cultura de morte em nossos dias parece dantesco, temos a companhia de Deus, e não devemos desistir de lutar. Domingo é o dia de lembrar que se hoje o toco está seco, velho e esturricado, amanhã ele pode estar vivo, florido e exuberante.
Feliz Páscoa pra você!

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