terça-feira, 31 de maio de 2011

A SOBERBA E A ANIMALIZAÇÃO HUMANA

Confira abaixo a mensagem do culto dominical, no dia 29/05, com o título "A soberna e a animalização humana" (ou "O dia em que Nabucodonosor virou lobisomem"), pregada por mim.


Para assistir à mensagem, clique aqui: http://www.ustream.tv/recorded/15050308

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PRONUNCIANMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL SOBRE A DECISÃO DO STF

PRONUNCIAMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL SOBRE A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM LEGALIZAR AS UNIÕES ESTÁVEIS DE PESSOAS DO MESMO SEXO

Em sua Carta de Princípios proposta no ano de 2005, a Aliança de Batistas do Brasil se propõe a “celebrar a diversidade da vida e da humanidade em todas as suas formas, respeitar as diferenças e promover o diálogo”, assim como também “defender a causa dos empobrecidos e proscritos da sociedade”. Esses anseios se fundamentam em nossa leitura do Evangelho de Jesus Cristo, em seu claro chamamento à causa dos oprimidos, em sua paixão pela liberdade humana e pela plenitude da vida de toda criação. Esses anseios também se fundamentam em nossa tradição batista, marcada historicamente pela defesa da liberdade de consciência de todas as pessoas, em matéria de religião e de civilidade.

É com base nestes princípios que a Aliança de Batistas do Brasil, mais uma vez fazendo uso das prerrogativas constitucionais de livre expressão, deseja tornar público o seu posicionamento com relação à decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) em garantir, de modo unânime, a legitimidade dos direitos civis das uniões estáveis de pessoas do mesmo sexo. Como entidade identificada com a justiça social e com a busca da equidade devida a cada cidadão e cidadã da nação brasileira, desejamos externar nossa satisfação e nosso contentamento com a decisão unânime do STF.

Desejamos tornar pública nossa leitura destes fatos, conscientes de que a mesma possa divergir da maneira como amplos setores das igrejas cristãs brasileiras têm se posicionado frente à mesma discussão.

1. Em primeiro lugar, não consideramos a decisão do STF relacionada aos direitos civis das uniões estáveis de pessoas do mesmo sexo como “ondas de imoralidade”, nem as articulações dos grupos identificados sobre a rubrica LGBTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Simpatizantes) como “afrontas à família brasileira e à moralidade sexual cristã”. Antes, as consideramos sob o ponto de vista da legalidade da luta política e ideológica, como expressões das possibilidades plurais de expressão próprias de qualquer estado democrático de direito. Em outros termos, compreendemos que conquistas como a sinalizada pela decisão do STF apontam para o amadurecimento da democracia, para a organização e o fortalecimento dos movimentos sociais, expressas por lutas demoradas, pacientes, assumidas por amplos setores da sociedade civil organizada. É com esta compreensão que manifestamos nosso apreço a programas como o Brasil sem Homofobia, cuja finalidade, mais do que conceder privilégios a grupos em especial, é reparar lapsos feitos a certas minorias, historicamente tratadas como pessoas de segunda categoria, estigmatizadas, e sem pleno uso de sua cidadania. 

2. Em segundo lugar, compreendemos que embora decisões como a do STF não sejam eficazes na diminuição do preconceito de que os indivíduos e grupos implicados têm sido vítimas ao longo de muito tempo, ao menos ajudam a reparar injustiças históricas e a conceder a esta comunidade de pessoas direitos legais já possuídos pelo restante da sociedade. Desta maneira, entendemos que as leis que regem o nosso país, em grande parte, estão ligadas a contextos sócio-políticos e culturais onde vigiam o patriarcado, além de refletirem a visão de mundo e de sociedade das pequenas elites ocupantes dos espaços políticos e jurídicos de produção dessas leis. Como conseqüência dessa leitura, entendemos que decisões como as do STF, também são reflexo do amadurecimento político e cultural, senão diretamente de nossos representantes políticos, pelo menos de alguns setores da sociedade civil organizada. A Aliança de Batistas do Brasil compreende que conquistas como as que estão em questão, representam rupturas históricas louváveis frente aos modos de constituição das formas jurídicas que regulam a sociedade brasileira. Oxalá esse amadurecimento chegue em breve aos campos tributário, ambiental, penal e político-institucional.

3. Em terceiro lugar, e do ponto de vista estritamente teológico, desejamos tornar pública nossa posição de que com o reconhecimento dos direitos civis da união estável de pessoas do mesmo sexo, os princípios evangélicos da vida com abundância, da dignidade humana e da justiça, amplamente defendidos pelas Escrituras Sagradas, são profundamente afirmados. Compreendemos que decisões legais como a que está em questão, ajudam a dirimir o senso de indignidade daqueles e daquelas que em nossa cultura cristã-patriarcal têm sido considerados “impuros”, e cuja opção, até o presente momento, tem sido os guetos de nossa sociedade. Pautados na atitude de Jesus de Nazaré, que sempre subverteu as formas com que as instituições religiosas de seus dias tratavam os “impuros”, relativizando dogmas milenares e chamando as pessoas a uma nova atitude frente àqueles excluídos, a Aliança de Batistas do Brasil compreende como uma “boa nova” o fato de que as pessoas identificadas sob a rubrica LGBTS estejam sendo incluídas no ideal de equidade social defendido pela Constituição Federal Brasileira. Também compreendemos teologicamente que eventos como a decisão unânime do STF ajudam a corroborar aquele que certamente é o maior princípio evangélico de todos, que é a defesa e a prioridade da vida. O preconceito contra a diversidade sexual, radicalizado por reações homofóbicas de todo tipo, degeneram em grande número de casos em crimes e atentados contra a integridade física dessas pessoas. Por isso, compreendemos que qualquer lei que beneficie e proteja a vida, funciona em sintonia com o espírito do Evangelho de Jesus Cristo.

4. Finalmente, como Aliança de Batistas do Brasil, entendemos que nosso papel principal, como igrejas cristãs desse tempo, seja o de contribuir no enfrentamento da intolerância que se dissemina com força cada vez maior no tecido social. Somos profundamente simpáticos a uma espiritualidade que se abra ao diálogo e que não tema o encontro com a alteridade; que se paute pela celebração da diversidade e que tenha na defesa da vida sua motivação precípua. Não defendemos essas idéias por mera sofisticação cultural, muito menos para sermos fiéis à cultura presente. Mas as defendemos, como dissemos, como conseqüência de nossa leitura do Evangelho de Jesus Cristo e de nossa relação com a herança batista da qual fazemos parte.

Maceió, 17 de maio de 2011
Prª Odja Barros
Presidente da Aliança de Batistas do Brasil  

sábado, 14 de maio de 2011

REINVENTANDO A FÉ E A VIDA

Espiritualidade e diversidade sexual à luz do conceito de “teonomia” de Paul Tillich

Introdução
Uma leitura cuidadosa da Bíblia, sem os óculos viciados de nossas hermenêuticas tradicionais, vai revelar o fato de que um dos temas capitais das Escrituras Sagradas é a reinvenção constante da fé e da vida. Embora não aceitemos a idéia de uma unidade teológica dos escritos bíblicos, aceitamos a idéia de que a reinvenção da fé/vida seja um tema que perpasse todos os seus escritos. Também não queremos dizer que isso que estamos chamando de “reinvenção da fé/vida” seja algo conscientemente defendido como uma doutrina pelos autores bíblicos. A reinvenção da fé/vida aparece na Bíblia de forma muito espontânea, assistemática, não-linear, por vezes caótica, sem qualquer pretensão de tornar-se dogma, sobretudo no testemunho da experiência histórica da fé/vida de Israel e da igreja.

terça-feira, 10 de maio de 2011

EDUCAR-SE PARA A DIVERSIDADE


Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) aprovou por unanimidade o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo. Sem dúvida, um fato de peso histórico que sinaliza para o tempo de profundas transições no qual vivemos. Quem está atento sabe que esse debate não começou agora. Agora tivemos apenas a batida do martelo em um debate que começou há bastante tempo, senão nas igrejas cristãs, pelo menos para amplos setores da sociedade civil organizada. Nós, cristãos evangélicos, continuamos tristemente correndo atrás do bonde da história, a reboque das grandes questões que estão sendo discutidas pela sociedade.
Para mim, a grande pergunta a ser feita agora não é “como combater a imoralidade que campeia na sociedade?”, mas “como ser igreja numa sociedade pluralista e secularizada?”. Embora a influência do religioso seja forte atualmente, amplos setores da sociedade não querem mais a tutela das igrejas. Acham-se emancipados, e desejam fundamentar seus valores em convicções puramente humanistas. Nossas igrejas terão que aprender a conviver cada vez mais com essas mutações sociais, e é imperativo que nos eduquemos para isso. Transformar o mundo torna-se uma tarefa cada vez mais complexa, e somente uma igreja reflexiva, madura e fiel ao Evangelho poderá fazê-lo a contento.
Considero um reflexo de imaturidade e arrogância a forma tacanha com que questões como a decisão do STF têm sido tratadas por certos grupos religiosos. Imaturidade, porque interpretam eventos como esse como “ondas de imoralidade”, quando na verdade são conquistas políticas de grupos que historicamente têm sido vitimados pelo preconceito e pela exclusão. Arrogância, porque em um estado laico como o Brasil, ainda querem que sua visão de mundo – neste caso, sua moral sexual – seja uma lei para toda a sociedade.
Necessitamos fazer de nossas igrejas espaços onde as pessoas sejam educadas para a diversidade. Com isso não estamos dizendo que a partir de agora temos que relativizar nossas crenças fundamentais, nem nossa moral sexual. Como dizia Jürgen Moltmann, “só existe comunhão verdadeira entre os diferentes”. Não podemos esquecer que o preconceito contra os negros, as mulheres, os homossexuais, tem fundamentos religiosos. Aceitar a diversidade e corroborar uma cultura de paz e de tolerância é o mínimo que podemos fazer como igrejas cristãs.
Para os grupos identificados pela diversidade sexual, a decisão unânime do STF foi recebida como uma grande vitória. Num estado laico e democrático de direito como o nosso, eles encontram na política um espaço eficaz para conquistar direitos que lhes têm sido negados historicamente. Certamente, nada disso diminuirá o preconceito de que são vítimas. Mas pelo menos algumas injustiças históricas serão corrigidas, e se reforçará a idéia de equidade defendida pela Constituição Federal. Inaugurar uma relação menos violenta junto a estas pessoas – organizadas, empoderadas e cada vez mais conscientes de sua condição e de sua cidadania – será uma tarefa que exigirá de nós humildade, maturidade, paciência e muita educação.