sexta-feira, 26 de novembro de 2010

VIGÍLIA DE PROTESTO PELA SEGURANÇA PÚBLICA EM ALAGOAS

Olá todos(as)!

À nossa reunião de ontem (25/11) compareceram eu (Paulo), Franqueline, Ascânio e Jorge. Primeiro, discutimos acerca de algumas repercussões que os casos dos assassinatos dos moradores de rua de Maceió têm tido na mídia. Ascânio nos apresentou alguns números que não estão sendo divulgados, e que apontam para uma gravidade muito maior do problema da segurança pública no estado. Concluímos essa parte convencidos de que, embora o problema com os moradores de rua seja o foco agora, nossa atuação deve levar em conta todo o contexto precário no qual se encontra a segurança pública em Alagoas, com um foco especial nas políticas públicas de combate às drogas, tratamento dos drogadictos e de atenção especializada aos moradores de rua.


Logo após, pensando na formatação da vigília, discutimos um pouco acerca da necessidade de ampliação das instituições que participarão tanto da vigília quanto da construção da mesma. Houve consenso quanto à idéia de que entidades não-cristãs (movimentos sociais, religiosos, sindicais, etc.) devem ser convidadas à construção e participação na vigília. No entanto, Franqueline achou por bem manter uma rubrica cristã-evangélica na construção do evento, o que de fato é inevitável, já que nós, representados por entidades cristãs, temos sido os protagonistas dessa ação. Na prática, isso significa que o Manifesto continuaria a ser de entidades cristãs, embora a vigília tenha a participação de grupos e movimentos não propriamente cristãos.


A próxima reunião, já visando a construção da vigília, ficou para o dia 06/12, no Colégio Batista, às 19h. Para essa próxima reunião desejamos ter já a presença dos representantes de algumas instituições que conseguimos listar. Primeiro, convidaremos os representantes de todas aquelas instituições que até aqui já assinaram o Manifesto (exceto aquelas de outros estados). Além daquelas entidades cristãs, vamos convidar outras como a OPEAL (Ordem de Pastores Evangélicos de Alagoas), Igreja Anglicana, a Arquidiocese de Maceió e o CEBI.


Entre os demais movimentos sociais, sindicais e religiosos que listamos na reunião para serem convidados estão o MST, CPT (Comissão Pastoral da Terra), Anajô, Cojira, GUESB (Grupo União Espírita Santa Bárbara – Mãe Neide), UFAL em Defesa da Vida (Drª Ruth Vasconselos), FALC, NADEC, CUT (Central Única dos Trabalhadores), SINTEAL e SINPOL (Sindicato de Policiais). Lembramos que todas essas entidades serão convidadas a construir, juntamente conosco, a vigília.


Por último, começamos a cogitar acerca do dia e lugar de realização da vigília. Foi um consenso a posição de que ela deve ser realizada no centro da cidade. A Praça dos Martírios, a nosso ver, é o lugar que reserva um poder simbólico maior, por três razões: é o local do Palácio do Governo, já foi palco de lutas históricas no estado de Alagoas e todos os dias aglomera um grande contigente de mendigos e moradores de rua.


Contamos com as contribuições (sugestões, críticas, etc.) de todos. Quem souber de mais entidades cristãs ou não-cristãs, por favor, sinta-se à vontade para indicá-las e para convidá-las. Franqueline ficou de redigir essa carta-convite que faremos circular.


Grande abraço a todos(as)!


Vamos trabalhando!


Paulo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS


Olá todos(as)!

Compartilho o esboço de minha participação na Jornada Religare "Mídia e religião", organizada pelo prof. Dr. Dalmer Pacheco, no dia 23/11, na UFAL.

Abraços!

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS*
Tensões e desafios no Brasil contemporâneo

Tensões entre pensamento religioso e Modernidade
Gostaria de focar minha fala na relação entre intolerância religiosa e Direitos Humanos. Nesse sentido, penso que minha abordagem levará em conta uma perspectiva mais ampla do problema da intolerância religiosa, porque esta não se dirige somente a outras formas de crença religiosa, mas talvez, muito mais a outras formas de comportamento social que extrapolam a esfera da religião. Mas do que a simples manifestação de antigas querelas entre diferentes confissões religiosas, o problema da intolerância extrapola até a transgressão de certos Direitos Humanos, que são conquistas legítimas de nossas sociedades, pelo menos em estados democráticos de direito como o Brasil.
Os Direitos Humanos, obviamente, são uma construção da Modernidade Tardia. A igrejas cristãs, no entanto, têm tido enorme dificuldade de equacionar sua concepção religiosa do mundo com a concepção secularizada que é produto da Modernidade. Poderíamos citar aqueles que consideramos serem alguns dos produtos dessa relação mal digerida:
- o fundamentalismo religioso, que é uma reação às influências do conhecimento científico e sua abordagem do fenômeno religioso (tanto no campo ideológico quanto prático);
- a dificuldade de aceitar que certas conquistas de grupos e indivíduos, mais do que afrontas à religião alheia, são Direitos Humanos conquistados com luta e perseverança na arena democrática;
- as próprias manifestações de intolerância devem ser vistas como resquícios de uma mentalidade alicerçada na ideologia do pensamento único;
- mas também seria importante destacar os setores eclesiásticos (talvez somente algumas vozes isoladas) para quem a “maioridade do mundo” e a “secularização” não representam obstáculos, mas desafios com os quais as igrejas deveriam dialogar constantemente. Cito essas tendências no conjunto daqueles produtos da tensão entre igrejas e pensamento Moderno, justamente porque nas igrejas, os movimentos e indivíduos que propuseram uma postura dialógica frente aos desafios da Modernidade nunca foram aceitos. Alguns deles foram até perseguidos e exilados de suas funções.
Para mim, uma das grandes contradições disso tudo, reside no fato de que muitas dessas igrejas, sobretudo no Brasil, tenham ajudado a construir um estado laico, secularizado, propício à diversidade. Isso se deu num momento da história em que esses grupos eram minoria perseguida. Hoje, com status de religiões amplamente aceitas pelas massas, invertem a situação, sendo que elas agora se tornaram promotoras da intolerância aos grupos diferentes. 
Novas estratégias de enfrentamento na pós-modernidade
Nos dias atuais, estamos assistindo a um fenômeno novo, que, pela qualidade de sua novidade, ainda não tem sido muito bem pensado pelas ciências humanas. Me refiro à tentativa da volta do discurso religioso e de sua influência na esfera pública e na governamentalidade (M. Foucault) estatal. Lembremos que um dos efeitos produzidos na Modernidade é o exílio do papel da religião para a esfera pessoal da vida. A Modernidade confinou a importância da religião exclusivamente na condução pessoal da vida das pessoas, mas sem qualquer poder de influência na esfera pública.
Considero alguns casos emblemáticos desse retorno da religião à influência na esfera pública no ocidente. Um deles é o 11 de Setembro de 2001, assim como o próprio governo Bush (legitimado por uma plataforma explicitamente marcada por valores religiosos), e o último processo eleitoral no Brasil, onde o discurso religioso conservador quase determina a pauta de discussões das campanhas eleitorais. O que quero dizer, é que para além das práticas cotidianas de intolerância religiosa que se dão nas relações entre as pessoas, a esfera pública passa a ser um local de enfrentamento entre concepções religiosas conservadoras e o pensamento laico e secularizado da Modernidade.
Intolerância religiosa e Direitos Humanos
Tenho falado em Direitos Humanos de forma muito genérica, e agora gostaria de ser mais preciso. Primeiro, gostaria de nomear alguns deles:
- o direito à própria diversidade e pluralidade de expressões religiosas;
- o direito à diversidade da experiência da sexual;
- o direito à pluralidade étnica e racial;
- o direito à democratização da terra como habitação e meio de produção;
- entre outros, devidamente representados pelas respectivas políticas públicas de amparo a esses grupos.
Em segundo lugar, gostaria de perguntar: o que são esses Direitos Humanos?
- não são concessões, mas são produto de lutas levadas à cabo sempre por grupos minoritários de nossa sociedade;
- são o produto de possibilidades inerentes a qualquer estado moderno, laico, cujas bases da governamentalidade estatal devem estar apartadas de concepções religiosas de um grupo em detrimento dos demais;
- são conquistas formalmente construídas e representadas pelas políticas públicas, legitimadas pelos meios democráticos dos estados modernos.
Finalizando, o que eu gostaria de trazer para a discussão é o fato de que hoje o problema da intolerância religiosa é muito mais amplo do que as históricas querelas entre as diferentes religiões. A intolerância religiosa dirigida contra as religiões afro-brasileiras (ou contra qualquer outro grupo religioso), contra as pessoas LGBTS, contra os movimentos sociais articulados com a luta pela terra, deve ser encarada como um atentado contra direitos humanos fundamentais, que consideramos como conquistas legítimas dos respectivos grupos.
Para os grupos considerados como vítimas históricas do preconceito religioso, acho que estamos num momento extremamente favorável, já que cada formulação daqueles direitos que citei como Direitos Humanos e sua tradução como políticas públicas, vem acompanhado com um amparo legal de proteção a esses grupos.


* Esboço de palestra apresentada na Jornada Religare “Mídia e religião”, na Universidade Federal de Alagoas, no dia 23 de novembro de 2010.
** Teólogo e pastor batista.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

NEGRITUDE, RELIGIÃO E SOCIEDADE


Neocolonialismo religioso e racismo no estado de Alagoas
“Os gregos estavam tão acima de nós como nós estamos acima da raça negra”
(Augustus H. Strong – Teólogo norte-americano que formou a primeira geração de pastores batistas no Brasil)
Quando participei, há dois anos, como palestrante no encontro da Fraternidade Teológica Latino Americana (Setor Nordeste), lembro-me muito bem de ter sido indagado, durante o debate, acerca da ausência em minha fala das questões relacionadas ao racismo no estado de Alagoas. Obviamente, a questão me fora dirigida por conta de minha condição como teólogo negro. Na oportunidade, eu fazia uma leitura teológica da economia alagoana capitaneada pela indústria canavieira, denunciando-lhe a selvageria com que se apropria dos recursos naturais e com que acumula os meios de produção e a riqueza material produzida nesse estado.
Agora, mais de dois anos depois, e instigado pela proximidade do Dia da Consciência Negra, a pergunta do meu interlocutor volta com toda sua força. Ela tem extrema pertinência. O silêncio com que tratamos o tema é constrangedor. Isso porque já não restam dúvidas de que, no Brasil, produzimos as formas mais sutis de racismo do mundo, invisibilizadas pelo discurso do “mito da democracia racial”, mas perfeitamente visíveis na nossa estrutura social excludente e segregadora.
A branquitude, enquanto estratégia político-ideológica para os fins da hegemonia de determinadas visões de mundo, é uma das marcas explícitas da história da formação do povo alagoano. Seu correlato dialético e antitético é a negritude. Dialético e antitético porque a branquitude tem na negrutide uma necessidade, a fim de afirmar sua superioridade. Sem esse referencial dialético e antitético não haveria suporte para o discurso ideológico da hegemonia branca. Mas essa dialética não serve apenas para sustentar os discursos. Tem servido muito mais para dar o suporte material feito de braços e pernas trabalhadoras, sem os quais nenhuma superioridade pode se efetivar. Padre Antonio Vieira, num de seus sermões, dizia que o negro, após a derrocada da escravidão do índio, viria a ser “os pés e as mãos do senhor [branco]”.
O processo de formação do estado de Alagoas confunde-se, como todos devem saber, com a história da consolidação da agroindústria canavieira. E a consolidação desta, depois de encerrado o processo de dizimação das culturas indígenas do estado (mormente dos Caetés e dos Potiguaras), teve exclusivamente no sistema escravocrata africano o seu suporte laboral. Fernando Lira nos informa que “ao contrário do ocorrido com os índios, nem a igreja nem a coroa se opuseram à escravidão do negro. As ordens religiosas, como as beneditinas, estiveram até mesmo entre os grandes latifundiários de terra, que exploravam o trabalho escravo”. Os negros trazidos para Alagoas procediam majoritariamente de Angola e Guiné. Lira ainda nos diz que “no final do período colonial, Alagoas tinha uma população de 111.973 habitantes, dos quais 42.879 eram livres e 69.094 eram escravos”. Semelhantemente ao ocorrido na maior parte dos estados do Nordeste onde o ciclo do açúcar deixou sua marca, os povos negros comparecem como povos instrumentalizados em favor dos interesses político-econômicos das elites locais.
Esses fatos, amplamente conhecidos de todos – e é isso que torna dispensável uma descrição exaustiva dos mesmos –, são quase sempre apresentados como dados históricos sem nenhuma vinculação com a presente (des)estrutura social do estado de Alagoas. E minha tese fundamental neste artigo vai na direção de afirmar que a terrível desestruturação social de Alagoas tem no racismo um companheiro necessário e perene.
Para ficar com apenas um exemplo concreto de como o racismo tem na nossa atual estrutura sócio-político-econômica um lugar privilegiado, gostaria de mencionar os dados de uma pesquisa de 2003, realizada pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. Utilizando dados do Censo 2000 do IBGE, aquele instituto de pesquisas revelava a existência de 1.850.000 pobres em Alagoas. Naquela época Alagoas tinha uma população geral de 2.800.000 habitantes, ou seja, 66% dessa população era considerada pobre. Desses pobres, 1.450.000 tinham procedência negra e índia (pardos, na infeliz expressão do IBGE). Em outras palavras, 78,3% dessa multidão de pobres eram pertencentes às matrizes negra, indígena e mestiça em geral. Seria essa correlação entre miséria e negritude/mestiçagem mera coincidência?
Como teólogo batista, não deixaria de perguntar pelo papel dessas igrejas nesse contexto. É amplamente sabido, como mencionado acima, que a Igreja Católica consentiu abertamente com o sistema escravocrata, e até se fez protagonista do mesmo, possuindo escravos africanos em algumas de suas ordens religiosas. Também é amplamente conhecido o famoso Quebra de Xangô em 1912, ocorrido em Maceió, quando as religiões de matriz africana foram terrivelmente perseguidas e sufocadas pelas autoridades políticas da época, dando origem à tradição do Xangô Rezado Baixo. De fato, tenho bastante curiosidade em saber como nosso protestantismo alagoano –, à época, junto com o protestantismo em todo Brasil, fervoroso defensor da liberdade religiosa promulgada em 1890 –, reagiu ao ver sufocadas as expressões de religiosidade africana neste estado. Teria o protestantismo alagoano defendido a liberdade de culto do Povo de Xangô, ou teria este corroborado a perseguição e o silenciamento desse povo negro?
Se os posicionamentos históricos do protestantismo em Alagoas forem considerados como estáveis, contínuos, e sem muitas alternâncias, responder à questão acima não será muito difícil.
O protestantismo no Brasil é multifacetado. Por isso é preciso deixar claro a quem se está fazendo referência. Neste artigo, nossas perguntas estão relacionadas àquela face do protestantismo brasileiro que vigorou como hegemônica até meados da década de 1980: o protestantismo de missão (onde se encontram os batistas).
Em todo o Brasil, a inserção do protestantismo de missão batista fez-se majoritariamente por intermédio das missões norte-americanas na segunda metade do século XIX. Alagoas, no entanto, registra uma peculiaridade em relação aos demais estados da federação. Aqui entre nós, diferentemente de outros lugares, a dependência da intervenção norte-americana permanece até os dias atuais. Parece seguro dizer que em nenhum outro estado brasileiro mais da metade dos templos batistas tenham sido subsidiados diretamente pelos norte-americanos, como ocorreu em Alagoas. Se estiverem certos aqueles que defendem que as missões protestantes norte-americanas representaram o braço religioso do neocolonialismo no Brasil, em Alagoas ainda estamos numa curiosa relação de submissão neocolonial no campo da religião. O estado de Alagoas parece possuir como peculiaridade a dificuldade de se libertar de relações patronais, como se vê claramente no campo da economia do açúcar, por exemplo.
Paulo D. Siepierski defenderia a tese de que a aversão religiosa de cunho cristão às manifestações culturais afro-brasileiras é somente a versão teológica do preconceito milenar direcionados a esses povos. Uma vez que ninguém nega o fato de que tais missões norte-americanas provindas do Cinturão da Bíblia (sul dos Estados Unidos) são profundamente racistas, compete-nos perguntar:
Ø Em que medida nosso protestantismo de missão (particularmente o batista) tem sido um dos bastiões do racismo no estado de Alagoas? A teologia e a prática das igrejas batistas ajudam a confrontar ou aprofundar o racismo em nosso estado?
Ø Em que medida a teologia e a prática dessas igrejas, assim como de seus mecanismos de educação, demonizam as expressões da religiosidade africana em Alagoas?
Ø Em que medida nossa ideologia religiosa funciona como força de contenção diante das expressões da negritude na cultura e na religião?
Ø A cultura negra se vê representada em nossos cultos? Caso não, por quê?
Ø Que representações sobre o “negro” e o “branco” estão presentes em nosso discurso religioso? Como esses conteúdos estão presentes na nossa pedagogia religiosa?
Se as chagas estruturais que afligem por tanto tempo a sociedade alagoana, refletidas nos piores indicadores sociais do Brasil, têm no racismo um companheiro necessário e perene, que contribuição estariam dando as igrejas protestantes à esta sociedade, com o trato que dispensam à cultura e às religiões do povo negro? Que efeitos colaterais nosso preconceito religioso contra a cultura e a religiosidade de matriz africana ajuda a produzir e corroborar em Alagoas?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

MANIFESTO CONTRA O EXTERMÍNIO DE MORADORES DE RUA EM MACEIÓ

MANIFESTO DE ENTIDADES CRISTÃS CONTRA O EXTERMÍNIO DE MORADORES DE RUA EM ALAGOAS


Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos
Mateus 5,6

Nós, representados pelas entidades cristãs que abaixo assinam este documento, desejamos nos dirigir a toda sociedade alagoana e a esta honrosa entidade, rogando-lhes que contribuam para uma intervenção contundentemente e comprometida com a apuração dos fatos envolvendo os assassinatos dos (até aqui) 31 moradores de rua em Maceió. Como entidades identificadas com o Evangelho da Vida (João 10,10), nos sentimos envergonhados por nosso estado estar sendo mais uma vez mencionado na mídia nacional como um lugar onde impera a cultura da morte. Entendemos, à luz de nossa fé, que cada pessoa humana, independente de sua condição de raça, credo, gênero, ou classe social, é imagem e semelhança do Criador (Gênesis 1,26-27), o que lhe confere total dignidade e valor. Ademais, cremos ainda que é dever dos estados democráticos fazer com que os Direitos Humanos sejam amplamente promovidos em favor de toda a sociedade.
Como entidades identificadas com o Evangelho de Jesus Cristo, desejamos manifestar nossa solidariedade às famílias dos 31 moradores de rua assassinados em Maceió, pois reconhecemos que a Boa Nova de nossa fé tem nos pobres um lugar privilegiado (Lucas 4,18-19). Neste sentido, unimos nossas vozes, em primeiro lugar, à Arquidiocese de Maceió na pessoa de seu Arcebispo Dom Antonio Muniz Fernandes, assim como a todas aquelas entidades e demais pessoas de boa vontade, para quem a vida é o dom mais precioso ofertado por Deus aos seres humanos. Reiteramos, portanto, nossa solicitação para que as entidades competentes não meçam esforços no sentido de oferecer à sociedade alagoana uma resposta rápida e uma intervenção urgente a fim de que cesse o clima de terror instalado nas ruas de nossa capital. Até quando nossas autoridades tratarão com parcimônia a cultura de morte que insiste em marcar o estado de Alagoas? Até quando os mais pobres, especialmente estes que agora são vítimas pontuais dos crimes de mando, permanecerão à mercê do Direito à Vida, que é o mais fundamental entre todos? Até quando nossas autoridades políticas tratarão o problema da segurança pública como um problema de poucos, em detrimento de todos os alagoanos e alagoanas?   
Com este manifesto, desejamos tornar público a toda sociedade alagoana nosso repúdio ao presente estado de coisas. Ele nos envergonha e nos enche de consternação. Os moradores de rua, vítimas dos presentes crimes na nossa capital, são filhos e filhas de Deus e nossos irmãos e irmãs. Todavia, tal vergonha e consternação com os últimos fatos decorridos não anulam nossa esperança numa mudança estrutural. A sede de justiça é uma marca do Povo de Deus (Mateus 5,6). Fomentados por ela é que concluímos este manifesto e esta petição, rogando mais uma vez a esta entidade para que, junto com as demais entidades competentes, contribuam para que “a justiça corra livre como um rio perene” em nossa querida Alagoas (Amós 5,24).

Solidariamente,

Fraternidade Teológica Latino Americana (FTL) – Núcleo Alagoas
Convenção Batista Alagoana
Ordem de Pastores Batistas do Brasil - Seção Alagoas
Aliança de Batistas do Brasil
Igreja Batista na Forene (Maceió)
Igreja Batista do Pinheiro (Maceió)
Igreja Batista em Penedo-AL
Igreja Batista Alvorada (Campo Alegre-AL)
Seminário Teológico Batista de Alagoas (SETBAL)
Evangélicos Pela Justiça (EPJ)
Madrugada do Carinho com Deus em Belo Horizonte
Ministério Vida (Guaratinguetá-SP)
Congregação Batista em Chã Preta-AL
Aliança Bíblica Universitária - Maceió

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

SEXO FRÁGIL COISA NENHUMA!


Sobre o movimento das mulheres dos presidiários do Cadeião
“Quem vê um pântano à luz da lua pode enganar-se: aquela lhe parecerá uma visão de paz. Mas, por baixo, não passa de podridão e lama em fermentação. Nós não queremos a paz dos pântanos, a paz enganadora que esconde injustiças e podridão”
(Dom Helder Câmara)
Marcos Monteiro havia dito em Um jumentinho na avenida: A missão da igreja e as cidades, que Maceió nos permite visualizar o que está acontecendo em nosso planeta. Nessa cidade – segue Marcos – encontramos todos os problemas do nosso século, da prostituição à ameaça ambiental, da criança de rua à violência institucional. Se não me engano, Marcos Monteiro morou aqui na década de 1990. No entanto, sua intuição segue bastante atual. Maceió continua sendo uma vitrine interessante para se ver o mundo. Mais ainda para se ver o Terceiro Mundo! Ao modo de um ponto do holograma, Maceió hospeda em si toda a complexidade das lutas que se travam em muitas partes do mundo hoje.
Na manhã de hoje (03/11) as mulheres dos presidiários do Baldomero Cavalcante (o “Cadeião”), próximo à UFAL, voltaram a interditar a BR-104, com piquetes de pneus queimados, impedindo o trânsito nos dois sentidos. Eu saía da UFAL para casa. Para não ficar preso no congestionamento, tomei um desses transportes alternativos e perambulei por duas horas pelas ruas e vielas não pavimentadas do bairro Santos Dummont. O motivo da manifestação, segundo o noticiário, havia sido a suspensão da entrada de objetos suspeitos no presídio e a restrição das visitas.
A manifestação das mulheres dos presidiários do Cadeião pode ser vista por muitos ângulos diferentes. Para o cidadão ordinário que já anda meio ressentido com protestos desse tipo, e só deseja voltar para casa depois do trabalho, da escola ou da universidade, a manifestação das mulheres quase sempre é vista como um vandalismo disfarçado de reivindicação, que penaliza quem não nada tem a ver com o problema. Para a polícia (epifania do poder repressor do Estado!), obviamente, ali está uma possibilidade de perigo à ordem pública a ser reprimido até que a ordem se refaça. Para a imprensa, o piquete das mulheres dos presidiários é somente mais um fato corriqueiro a merecer poucas linhas num editorial da seção “cotidiano” e poucos minutos no jornal das seis.
Pois de minha parte penso que a “desordem” dessas mulheres é tão legítima quanto necessária. Com seu piquete, elas vão nos dizendo que aquilo que chamamos de “ordem” é caos, e aquilo que chamamos de “caos” é útero de uma ordem nova, diferente, justa e mais humana. Com seu piquete, elas vão nos dizendo que nossa paz é uma “paz de pântanos” (Dom Helder), que esconde injustiças e podridão.
Essas mulheres são todas pertencentes às classes mais baixas da sociedade. O encarceramento de seus companheiros agrega a isso um fardo que nenhum “sexo frágil” suportaria carregar. Já pude conversar com algumas delas, e descobri como seu cotidiano é transformado pela prisão de seus companheiros. São elas que se encarregam da administração da casa, duplicando a jornada de trabalho. Sobre elas duplica o cuidado dos filhos, e a elas compete a batalha no campo judicial para fazerem valer os direitos que seus companheiros têm perante a lei. Não podendo pagar os serviços dos melhores advogados, recorrem à Defensoria Pública, que, como todo órgão do Estado, convive com a morosidade e com uma maneira peculiar de tratar as pessoas mais pobres de nossa cidade, marcada sempre por um semi-descaso. Nos dias de visita, dormem nas filas, sempre ao relento. O piquete, portanto, é para elas a única forma de fazerem-se ouvir perante a sociedade. Como mulheres que se sabem sujeitos de certos direitos, não podem fazer como as feministas mais sofisticadas, que atuam no campo da ciência e da ideologia. De que outra forma essas mulheres invisíveis poderiam fazer ouvir a sua voz?
O que é caos? O que é ordem? O que é paz? O que é desordem? São as questões suscitadas pelo piquete de pneus das mulheres dos presidiários do Cadeião. Caos e ordem são apenas uma questão de perspectiva? Se for, assumo a perspectiva dessas mulheres baderneiras, incontidas, desordeiras, rebeldes, quase sempre negras e sempre pobres. Algumas delas foram presas, acusadas de apedrejar os ônibus que tentaram atravessar seu piquete. Duvido que tal atitude da polícia, que mais do que uma ação contra indivíduos é uma tentativa de intimidação do movimento, sirva para anular a força dessas mulheres.
Assim, já sei que destino dar aos pneus velhos no fundo do meu quintal. Vamos impedir a proliferação do mosquito da Dengue!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SOBRE A MORTE DE MORADORES DE RUA EM MACEIÓ

Olá Pastores do campo alagoano, e especialmente de Maceió!

O que se poderia fazer enquanto Ordem de Pastores Batistas e Convenção Batista Alagoana no que tange ao problema abaixo citado? Me ponho à inteira disposição de todos vocês para servir no que estiver ao meu alcance. Pensem na questão!



"O que me incomoda não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons" (Martin Luther King Jr. - Pastor Batista)

Paz a todos!

Pr. Paulo Nascimento 


NOTA DA ARQUIDIOCESE DE MACEIÓ SOBRE AS MORTES DOS MORADORES DE RUA
 
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10)
 
O Arcebispo de Maceió, comovido diante das inúmeras mortes dos moradores de rua sente a responsabilidade de declarar o que se segue:
É do conhecimento público que 30 (trinta) moradores de rua foram assassinados este ano em Alagoas – 29 (vinte e nove) em Maceió e 1 (um) em Arapiraca – e que até agora as investigações não deram nenhum resultado. A Arquidiocese de Maceió não pode deixar de erguer sua voz e denunciar energicamente esta situação.
A Igreja acompanha este longo e doloroso calvário de nossos irmãos e irmãs que vivem nas ruas. Inúmeras vezes, de forma pública e privada, dirigindo-se às autoridades sem obter resposta.
A Igreja Católica ergue sua voz porque se sente ferida em sua missão de proteger a dignidade humana que considera sagrada, porque procede de Deus, sua Testemunha e Juiz.
Consterna-se, ademais, por essa forma de extermínio que sofrem os povos da rua, o que é uma ofensa à sensibilidade dos que amam este Estado e desejam caminhos de respeito e justiça que conduzam a uma convivência fraterna. Essas mortes, lamentavelmente, contribuem para deteriorar a imagem de Alagoas diante do país e do mundo.
Estas mortes nos devem fazer tomar consciência de tantas violações, agressões e ameaças que os moradores de rua sofrem. Com que freqüência se ofende a dignidade humana! Todo ser humano é filho de Deus. E nenhuma organização, nenhuma pessoa tem o direito de perseguir, maltratar, violentar ou matar alguém.
Partilhando da dor destes irmãos que vivem e sobrevivem nas ruas, pedimos:
1.      Que em nome de Deus respeitem a vida e a integridade física de nossos irmãos moradores de rua.
2.      Que as autoridades, encarregadas de velar eficazmente pela segurança das pessoas e do bem comum, que investiguem com seriedade estes fatos tão dolorosos, evitando que os autores permaneçam na mais absoluta impunidade.
3.      Que os católicos de nossa Arquidiocese e as pessoas de boa vontade contribuam, com suas atitudes, a criar um clima de verdadeira fraternidade e de efetiva justiça, pois acreditamos que ainda é tempo de reiniciar um novo caminho rumo à convivência social justa e fraterna e rumo à paz que todos nós almejamos.
 
Exortamos todos a defender a vida. A fé em Jesus Cristo nos impele a criar com nosso esforço, nossa união e nossa capacidade de luta, condições de vida em que o respeito, a participação e a justiça sejam algo mais do que palavras. A VIDA É UM DOM DE DEUS. DEVEMOS DEFENDÊ-LA!
 
Maceió, 28 de outubro de 2010
 
Dom Antônio Muniz Fernandes, O.Carm
                                                                                               Arcebispo Metropolitano de Maceió