quinta-feira, 28 de abril de 2011

APOIO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL À FESTA DA LAVADEIRA


A Aliança de Batistas do Brasil, instituição batista de caráter ecumênico, que atua na luta em favor de tudo o que promova os direitos dos seres humanos, dentre estes o direito à expressão cultural, vem aqui se posicionar contra as ações que querem impedir a plena realização da Festa da Lavadeira na Praia do Paiva, litoral sul de Pernambuco, no próximo dia 1º de maio.

Repudiamos as tentativas da Construtora Norberto Odebrecht de tornar a Praia do Paiva, local onde a Festa da Lavadeira acontece há 25 anos, num espaço privado, cercado de arames farpados, seguranças particulares e com diversas restrições impostas aos nativos da região, bem como repudiamos a decisão do Ministério Público de Pernambuco em proibir a realização da Festa, permitindo apenas a cerimônia religiosa, desrespeitando completamente a tradição construída pelo povo do local de unir sua religiosidade com as diversas expressões culturais que o evento sempre abrigou.

Entendemos que a Festa da Lavadeira, como um dos maiores espaços da cultura popular, sobretudo de Pernambuco, não pode ficar refém do poder econômico e da especulação imobiliária que assola a Praia do Paiva. Olhamos com desconfiança a Lei Municipal 2.602, criada no “apagar das luzes” do ano de 2010 (20/12/10), pois não vemos nela interesse em proteger a Praia do Paiva e, sim, o desejo já expresso nas diversas ações da Odebrecht de, em nome do sucesso dos seus empreendimentos comerciais, tirar da referida praia sua condição de pública.

A Aliança de Batistas do Brasil está do lado da plena realização da Festa da Lavadeira no próximo dia 1º de maio de 2011, em nome da democracia, da cultura popular, do povo da Praia do Paiva, do povo pernambucano e do povo nordestino.

Pra Odja Barros Santos
Presidente da Aliança de Batistas do Brasil

sábado, 23 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA PRA VOCÊ !!!


No ano de 1999, quando eu ingressei no curso de Teologia do Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNe), em Feira de Santana-BA, o recém reitor Dr. Ágabo Borges havia feito um gesto que encheu aquela comunidade acadêmica de suspeições e inquietações. Ele havia colocado um toco morto de árvore no meio do jardim do seminário. Era um toco velho, volumoso, sem vida, que destoava completamente da grama bem cuidada e das grandes e frondosas árvores que havia ali.

Logo começaram os falatórios. “Deve ser mania de alemão”, diziam uns. É que nosso recém reitor havia feito suas pós-graduações em Teologia (mestrado e doutorado) na Alemanha. E os falatórios seguiam nos corredores, na cantina, nas salas de aula. Mas ninguém se atreveria a questionar o gesto de um Doutor em Teologia formado na Alemanha. E o toco ficou lá no meio do jardim, inerte, feio, contrastando com um fundo de beleza e cuidado. Parecia que a morte havia marcado um ponto em meio à vida.
Com o tempo, algo aconteceu. Ramagens iam aparecendo ao redor daquele toco por todos os lados. Pareciam trepadeiras. No início, apenas folhas. Depois, pequenas flores que tomavam todo o toco. Em alguns meses aquele toco estaria todo tomado por ramagens e flores, de tal maneira que mal se podia vê-lo. Viam-se as ramagens e as flores, numa composição botânica difícil de entender para quem não tivesse visto o toco anteriormente. Numa das lecções – que são os cultos semanais que acontecem nos seminários de teologia evangélica – o reitor dedicaria um sermão para, finalmente, explicar o simbolismo de seu gesto. Era o triunfo da vida sobre a morte. O toco era um sacramento. Apontava para a esperança principal da fé cristã: a vitória da vida sobre a morte.
Os discípulos haviam perdido completamente a esperança logo após a crucificação de Jesus de Nazaré. Como a maioria de nós hoje, eles haviam chegado à conclusão de que os poderes da morte são grandes demais para serem derrotados. O Império Romano havia vencido mais uma vez. O sonho com uma sociedade diferente – modelada conforme o símbolo “Reino de Deus” – havia sido derrotado definitivamente. Portanto, a ressurreição de Jesus na manhã do domingo havia sido a ressurreição deles também. E ela os atingiu com tanta força que o sonho com uma nova sociedade tornou-se universal.
Vivemos hoje numa sociedade bastante necrófila. Domesticar os terrores da morte sempre foi um desejo profundo do coração humano. Historicamente, temos feito isso de diversas maneiras: pela religião, pela ciência, às vezes pela arte. Mas acredito que no afã de domesticar os terrores da morte, nossa sociedade caiu no outro extremo de sua banalização. Hoje, a morte é algo que cultivamos. Creio que eventos como o de Realengo, por exemplo, têm muito mais relação com uma cultura que cultua a morte do que com determinantes psiquiátricos. É difícil crer que estejamos perto de ultrapassar a cultura de morte que nos cerca hoje em dia.
A Páscoa é o dia para lembrarmos que nossa vocação é crer no triunfo da vida. É o dia para lembramos que a ressurreição de Jesus Cristo é a resposta de Deus a uma conjuntura específica de morte: aquela imposta pelo imperialismo de Roma. A ressurreição de Jesus Cristo é o símbolo da opção pela vida. É o dia para que nós, cristãos de todo mundo, nos lembremos que se o enfrentamento da cultura de morte em nossos dias parece dantesco, temos a companhia de Deus, e não devemos desistir de lutar. Domingo é o dia de lembrar que se hoje o toco está seco, velho e esturricado, amanhã ele pode estar vivo, florido e exuberante.
Feliz Páscoa pra você!

terça-feira, 5 de abril de 2011

ME DECLARO COMPLETAMENTE ATEU

Essa semana nos presenteou com mais um exemplo do poder demoníaco da interpretação literal da Bíblia. Estou usando a palavra “demoníaco” pensando na acepção dada a ela por Paul Tillich. Em Tillich, o demoníaco é a força destrutiva que advém das relações idolátricas. É o poder de destruição que está em jogo quando um elemento relativo, histórico, condicionado, é elevado ao status de absoluto, ou – numa palavra religiosa – de divindade. É exatamente isso que ocorre com a interpretação literal e fundamentalista da Bíblia. Os textos bíblicos, historicamente produzidos, polissêmicos, relativos em sua interpretação, são tomados literalmente como formas discursivas absolutas, válidas em todo tempo e espaço. Nesse instante faz-se uma idolatria. E toda idolatria, conforme Tillich, é demoníaca, pois hospeda em si um poder de destruição da vida, que é sempre fluida, e resistente aos esquemas rígidos de interpretação.