domingo, 19 de dezembro de 2010

FÉ É GRAÇA NA SOCIEDADE DO NARCISISMO

“Pureza de coração é desejar uma coisa só...”
Sören Kierkegaard

A primeira coisa que vi na TV, nessa manhã de domingo (19/12), foi uma matéria realizada numa igreja evangélica de Brasília, relacionada à celebração de uma de suas “campanhas”, cujo mote central era o compromisso que Deus tem com a realização dos sonhos e desejos das pessoas. Celebrava-se a realização desses desejos alcançados em 2010, e projetava-se 2011 como um ano de profundas e maiores vitórias e realização de outros tantos desejos. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

DISCUTINDO POLÍTICAS PÚBLICAS E HOMOFOBIA

Recebi o vídeo abaixo de um amigo, tratando do tema das políticas públicas ligadas à homofobia. Assista ao vídeo, e logo abaixo segue meu comentário.






Meu caro irmão Fulano de Tal!

Que bom vê-lo de volta interessado em dialogar e suscitar reflexões. Vamos a elas.

Em minha opinião, as políticas públicas relacionadas aos Direitos Humanos -- e o direito à diversidade da experiência sexual é um Direito Humano -- servem justamente para dissolver a dicotomia homofobia X heterofobia. Elas objetivam justamente fazer com que esses embates se tornem supérfluos, pois numa sociedade onde a diversidade e o respeito são amplamente valorizados, as fobias não fazem mais sentido.

Também acho que não se trata de heterofobia. O que temos, de fato, é uma heteronormatividade. Temos uma sociedade que é heteronormativa, isto é, uma sociedade em que os padrões heterossexuais são considerados naturais, e as demais manifestações da sexualidade humana são consideradas desviantes dessa norma dita natural. Independentemente de acharmos isso certo ou errado, peço-lhe que me acompanhe com calma nesses raciocínios:

1 - Você concorda comigo que a heteronormatividade -- isto é, a visão de que a heterossexualidade é o padrão natural da sexualidade humana -- é um legado religioso e cristão no Ocidente? Sem colocar a verdade disso em questão, todos nós concordamos que foi com o Cristianismo, enquanto uma das matrizes culturais do Ocidente, que aprendemos acerca dos papéis sexuais. Em psicologia nós diríamos que fomos todos "subjetivados" a partir de uma concepção heteronormativa, de tal maneira que isso tornou-se nossa "verdade" e "norma". Não conseguimos aceitar de jeito nenhum que existam outros pontos de vista diferentes disso. Portanto, mais do que algo que está inscrito em nossos corpos, nós todos aprendemos sobre os papéis sexuais com o Cristianismo. Nossas sociedades, de modo amplo, também têm sido subjetivadas há dois mil anos à luz dessa compreensão.

2 - Desde 1890 nosso país tornou-se um estado sem religião oficial, ou seja, laico e democrático de direito. Tudo que um estado moderno de direito faz na condição de estado laico, é feito a partir de bases puramente seculares, humanistas, ideológicas, fundadas numa compreensão do ser humano que às vezes destoa das concepções religiosas. Sobretudo ações como essa citadas no vídeo, não nascem de um estalo da cabeça de alguém. São o produto de lutas intensas, demoradas, de grupos inteiros que se consideram marginalizados. Num estado onde não existem normatividades ditadas pela religião, esses grupos têm todo direito de resistir e fazerem-se ouvir na sua compreensão acerca do que é o ser humano. As políticas públicas são o único meio de esses grupos terem ouvidas suas opiniões. Ou também achamos que eles devem permanecer calados em seus guetos?

3 - E o tal "kit-gay"? Perceba Fulano de Tal que a própria estigmatização do material como um "kit gay" (não é esse o nome do material!) já nos impede de tratar a questão de forma racional, pois de saída já está banhada em preconceitos. Mas eu diria, como alguém que estudou e debateu o programa Brasil sem Homofobia do governo federal, que o objetivo da cartilha não é doutrinário. Também não é impor uma homonormatividade, isto é, não é substituir a heterossexualidade pela homossexualidade. Não é fazer discípulos gays. O objetivo da cartilha é combater o preconceito frente a diversidade sexual, que todos nós aprendemos na infância. É fazer frente à naturalização da heterossexualidade. Repito: num estado sem normatividade religiosa, isso é perfeitamente possível. Sei que os embates são inevitáveis, por conta da cultura de nossa sociedade, que a espelho da cultura das igrejas, é abertamente preconceituosa. Mas, tomados os devidos caminhos dos mecanismos democráticos, projetos dessa natureza são perfeitamente cabíveis em estados como o Brasil. Acho até que são desejáveis!

4 - E as crianças? Bem, como eu disse, é justamente na infância que aprendemos a ler o mundo. É na infância que internalizamos a maioria das categorias com as quais damos sentido ao mundo. Os papéis sexuais, e no caso a heteronormatividade, são assimilados na infância via educação, pois não estão dados na nossa "natureza". Minha opinião é a de que, a depender de como o material possa ser utilizado com essas crianças, ele pode ser extremamente proveitoso. Pode degenerar em promiscuidade? Pode sim! Mas nós, heterossexuais, repetidamente degeneramos em promiscuidade também. Portanto, se o material for usado para fomentar processos educativos que estimulem o respeito pela diversidade, acho que chega numa boa hora. No mais, só devem estar preocupados os pais que não educam seus filhos em casa, deixando tudo nas costas da escola.

Bem, se a coisa toda está certa ou errada, que cada um decida.

Espero ter sido claro, pelo menos. Desculpe a prolixidade. Me curo disso algum dia.

Abraços meu irmão! 

Paulo

sábado, 11 de dezembro de 2010

RELIGIÃO E SEXUALIDADE


Para mim, o maior legado de Sigmund Freud, mais do que a amplitude do sistema psicanalítico, é fazer-nos tomar a sexualidade a sério, sem os atavios hipócritas com que ela é tratada, sobretudo em certos ambientes cristãos. Por conta dessa contribuição, a psicanálise nem precisaria ter razão no que diz.
Eu não tenho certeza, mas suspeito que a psicanálise tenha sido o primeiro discurso sobre a sexualidade humana que ganhou status paradigmático, depois dos discursos sobre a sexualidade construídos pela Igreja Cristã. Há entre esses dois discursos infindáveis divergências. Nem de perto nos compete listá-las aqui.
Também considero que Michel Foucault tenha dado enorme contribuição quando se trata de pensar no sexo. Porque comumente nossa atenção volta-se para os problemas da repressão. Até mesmo a psicanálise dedica boa parte de sua atenção ao problema da repressão sexual, e das conseqüências que dela advém. Foucault trabalha com uma teoria do poder onde a “hipótese repressiva”, como ele a chama, não é o centro do problema. Para ele, o problema é justamente o oposto. A Igreja Cristã – ou o “poder pastoral”, em sua expressão –, generalizando a prática da confissão para o povo leigo, promoveu uma “incitação aos discursos” sobre a sexualidade, discursos esses ausentes na cultura ocidental. No lugar da repressão, Foucault centra sua atenção na torrente de discursos sobre o sexo incitados pelo dispositivo da confissão, levado a cabo pelo poder pastoral. Portanto, em vez de nos perguntar “por que reprimimos a sexualidade?”, deveríamos perguntar “que tipo de discursos nós produzimos sobre a sexualidade?”.
É com esse espírito que eu desejaria contar um caso pitoresco, desses que ilustram como os discursos sobre a sexualidade permanecem sendo um fantasma com que nós, cristãos, vamos ter que conviver por muito tempo. Meu desejo nesse texto, portanto, é muito mais cômico/polêmico que informativo.
Naqueles dias, a moda evangélica eram as vigílias feitas nos montes. Os sujeitos aqui implicados eram todos ligados a uma igreja muito tradicional, onde as práticas pentecostais eram tacitamente confrontadas. No entanto, movidos pela subversão e pela curiosidade em relação às experiências místicas, lá estavam eles, todos os dias a subir o monte de oração. O grupo era grande. Devia ter entre vinte e vinte e cinco jovens, todos muito ávidos pelas experiências carismáticas acerca das quais se ouvia falar serem abundantes entre os pentecostais. O falar em línguas estranhas, as revelações, as curas de enfermidades, as manifestações no corpo, e todas essas manifestações visíveis eram uma espécie de atestado da presença de Deus.
Aquele grupo vivia num ambiente onde a reflexão, a doutrina, a pregação, o ensino, a pedagogia, eram privilegiadas. Mas eles queriam mais! Queriam ver, ouvir, tocar, sentir, beber diretamente na fonte do sagrado, sem as mediações sacramentais clássicas do protestantismo histórico, cuja ênfase está na palavra. Estavam cansados de palavras. Por contraditório que pareça quando formulado conceitualmente, o que eles desejavam era a materialização da palavra pelas vias do espiritual.
Para comprovar a tese de que as relações de poder estão capilarizadas por todos os agrupamentos humanos, aquele grupo também tinha seus líderes. Os líderes eram auto-promovidos. Deviam ser reconhecidos pelos demais com base na qualidade da “vida espiritual”. Em termos concretos, os líderes eram reconhecidos entre aqueles que cultivavam a leitura e a meditação cotidiana das Escrituras, a oração constante, a manifestação de dons carismáticos, a capacidade de bem influenciar, o cuidado com a moralidade (que sempre foi sinônimo de cuidado com a sexualidade).
Em meio aos devaneios carismáticos, o grupo havia inventado algo chamado “ritual da confissão”. Era o momento em que cada membro do grupo deveria confessar os erros cometidos na semana, a fim de que os líderes pudessem orar e pedir purificação sobre os culpados. Acontecia assim: eles se arrumavam num grande círculo com todos em pé; os líderes iam nomeando os erros por gradação de gravidade, daqueles que eram considerados “menos graves” até os “mais graves”; os que iam se reconhecendo naqueles erros, iam dando um passo à frente e se ajoelhando no centro círculo, a fim de que pudessem receber a oração purificadora dos líderes.
Num desses dias, ocorreu o seguinte:
A seção começou com a nomeação dos pecados menos graves.
— Quem não fez a leitura das Escrituras essa semana, por favor, dê um passo à frente e ajoelhe-se!
Dois sujeitos o fizeram.
Descendo até os pecados mais graves, um dos líderes continuou:
— Quem agrediu verbalmente outra pessoa e ainda não lhe pediu perdão essa semana?
Mais dois sujeitos deram um passo à frente e se ajoelharam para receber a oração purificadora.  
O processo continuou, de tal maneira que culminou na derradeira pergunta, considerada no dia como sendo o pecado mais grave. Por acaso, era no campo da sexualidade:
— Quem se masturbou essa semana e ainda não se redimiu?
Fez-se um silêncio grave...
Depois de alguns minutos, todos no grupo, até os líderes, ajoelharam-se a fim de receberem a oração. Juntaram-se todos no centro do círculo, e ajoelhados oraram uns pelos outros, de forma que naquele dia não houve quem não confessasse a necessidade de remissão. Nem mesmo os líderes. Pelo menos é louvável o fato de que todos tenham sido honestos!
Obviamente, este é um caso pitoresco. Ao mesmo tempo em que representa a comicidade de uma situação inusitada, também pode ser encarado como um conto emblemático que sinaliza para um problema a ser pensado com cuidado. Sinaliza para a maneira insistente com que as igrejas cristãs lidam com as questões da sexualidade humana. E não estamos pensando na idéia da repressão, mas, em sintonia com Foucault, nos discursos que se produzem sobre a sexualidade nesses ambientes.
Correndo o risco de estar exagerando, eu diria que em certos ambientes eclesiais o discurso sobre a sexualidade é único que deve ser levado a sério. Dificilmente se pode levar a sério os imperativos morais para “não roubar”, “não mentir”, “amar o próximo”, “controlar a língua” etc. Todos esses são imperativos morais, recorrentemente presentes no discurso cristão, mas que não devem ser levados a sério pois os próprios proponentes não os levam. Tratam com parcimônia os que roubam (quando não são eles mesmos os ladrões); não se importam com a mentira (quando não são eles mesmos a mentir e a acobertar mentiras); tratam com parcimônia os que explicitamente desobedecem o mandamento do amor ao próximo (quando não são eles mesmos que odeiam); tratam com parcimônia o mau uso da língua (quando não são eles mesmos a fazê-lo). Dificilmente os processos disciplinares das igrejas punem essas transgressões. Dificilmente esses pecados têm força para comprometer toda a vida de uma pessoa cristã.
Mas não é assim com o sexo!
Rubem Alves dizia que as igrejas não toleram os pecados do pensamento, isto é, as heresias. Acredito que isso já saiu de moda, posto que a única coisa imperdoável aí são as transgressões no campo da sexualidade. São elas as campeãs nos processos disciplinares. São elas as únicas com o poder de macular a reputação de toda uma vida.
A sexualidade – em suas formas naturalmente pré-concebidas – é um campo tão inegociável para certos ambientes cristãos, que ela (junto com o tema do aborto) foi capaz de contestar um dos grandes fenômenos da Modernidade: o confinamento da importância da religiosidade à esfera privada da vida. Foi em defesa dos tabus e dogmas envolvendo a diversidade da experiência sexual que uma grande parcela das igrejas cristãs no Brasil invadiu a esfera pública, e quase determinou a pauta do último processo eleitoral/presidencial. Somente o sexo poderia reconduzir a militância cristã às ambiências públicas como vimos na última eleição presidencial. Somente o sexo poderia mobilizar a militância de tradições marcadas historicamente pela ausência na esfera pública e pelo desinteresse no debate político no Brasil. Só o sexo deve ser levado a sério no discurso dessas respectivas tradições. Não pela verdade/mentira desses discursos. Mas pelo potencial de ação que eles ajudam a suscitar.
Que volte a moda das vigílias nos montes. E que o ritual da confissão se dissemine entre nossos melhores líderes. Com a honestidade dos sujeitos acima descritos, obviamente.
Textos mencionados
ALVES, Rubem (2003). Religião e repressão. São Paulo: Teológica
FOUCAULT, Michel (1988). História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, vol. 1
FREUD, Sigmund (1996). Três ensaios sobre sexualidade. In: Edição standard das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, vol. VII

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O GALO PROFETA E O CANTO DA VAIDADE

Havia um terreiro onde a injustiça e a desigualdade imperavam soltas entre os galos. A vida da maioria dos galos era muito ruim, porque um pequeno grupo se considerava proprietário do poleiro, das cercas, da organização do terreiro, de tal maneira que a população, em sua maioria, consistia em galos pobres. 


Basicamente, apenas dois tipos de canto de galos se faziam ouvir naquele lugar. Ou canto forte e estridente dos poucos galos que mandavam, ou os piados frouxos da maioria dos galos pobres. O piado dos galos pobres era tão fraco que mal podia ser ouvido. Não chegava sequer a ser ouvido pelos galos ricos, que continuavam tranqüilos como os únicos donos do pedaço.

- “A vida é assim: há os que nasceram para mandar e os que nasceram para obedecer”. Diziam alguns de entre os galos pobres.

- “Tudo nessa vida é como Galeus quer”. Diziam outros galos conformados.

Houve um dia, entretanto, que um galo novo chegou àquele terreiro. Ao notar a situação de dificuldade que os galos pobres tinham de enfrentar, decidiu, corajosamente, cantar na mesma altura dos galos ricos. Subia no poleiro e de lá cantava alto, bonito, estridente, chamando os galos pobres a tomarem pé da situação. Seu canto era tal que podia ser ouvido pelos galos ricos, que, obviamente, não gostaram nadinha daquela novidade.

- “Quem é este galo para desafiar nossa autoridade?” Perguntavam alguns de entre os galos mandões.

- “Quem lhe deu tamanha autoridade? Em quem ele confia?” Indagavam outros.

- “É pecado contestar as autoridades constituídas”. Diziam alguns de entre os próprios galos pobres.

E aquele galo, sozinho, repetia todos os dias o seu canto de defesa dos galos pobres e de denúncia da perversidade dos galos ricos, únicos a gozarem boa vida no terreiro, com milho, ração, e até pão de ló. Por muito tempo aquele galo, defensor dos galos pobres, cantou sozinho. Tanto eram o medo e o pavor que os galos pobres tinham dos galos ricos e poderosos, que foi difícil encontrar alguém que o quisesse acompanhar em sua atitude corajosa e destemida. Mas ele nunca temeu o fato de cantar sozinho. Todos os dias, logo cedo, como é costume nos terreiros, todos ouviam seu canto forte de defesa dos direitos dos galos pobres.

- “Como ele é corajoso. Como é admirável a sua coragem!” Diziam alguns poucos galos pobres.

- “Quero ser amigo dele. Quero aprender com ele a ser assim, corajoso e destemido”. Diziam outros.

E sua fama ganhou o terreiro. A admiração por seu canto diferente se espalhou por todo canto, até para além das cercas daquele terreiro. Era tanta a sua fama, que galos de outros cantos queriam ouvi-lo cantar. E ele se pôs a cantar aqui e acolá. E quanto mais cantava mais requisitado era a cantar em diferentes lugares. Não sem méritos! Seu canto era mesmo diferente daqueles que se costumavam ouvir pelos terreiros afora. Era um canto cheio de vida, de coragem, de vontade de justiça, de paixão pela liberdade. E por mais que seu canto encontrasse também a incompreensão de muitos entre os galos pobres, acostumados àquela vida sem autonomia, havia sempre galos em todo lugar dispostos a ouvir seu canto diferente.

Um dia, quando ninguém esperava, uma coisa inusitada e inesperada aconteceu no terreiro. Outros galos começaram a querer cantar com a mesma intensidade e beleza daquele galo corajoso. Foram se dando conta de que se “uma andorinha só não faz verão”, um galo só também não. Afinavam todos os dias o gargalo, e iam ensaiando cantos diferentes, cheios de vida, de paixão pela liberdade, e de vontade de reverter aquela triste situação de dominação de uns poucos galos sobre a maioria do terreiro. Juntaram-se, e foram compondo canções em conjunto. Queriam formar um coral de galos corajosos. Não eram muitos, mas queriam que seu canto fosse forte, a ponto de ser ouvido por aqueles galos que se consideravam os únicos donos do terreiro.

Surpreendentemente, aquele primeiro galo corajoso, destemido, de canto firme e forte, se ufanou. Nunca quis fazer parte do coral daqueles novos galos, dispostos a cantar novas canções de liberdade. Queria continuar a cantar seu canto sozinho. Ninguém entendeu direito o porquê daquilo, mas era triste que aquele galo corajoso, motivo de inspiração para todos os demais que vieram depois dele, não quisesse se juntar ao coral para engrossar os cantos de liberdade.

- “Meu canto forte e estridente não pode se misturar ao de ninguém”. Dizia ele.

E o terreiro permaneceu daquele mesmo jeito. Uns poucos galos viviam no maior conforto, mandando e desmandando na vida dos demais. Tristemente, todos se deram conta de que o canto daquele galo corajoso, mais do que o canto da liberdade, era o canto da vaidade de ser o único defensor dos galos pobres e oprimidos.

Houve um galo, Qoelet, que num de seus cantos dizia que “tudo é vaidade”. É curioso que a defesa da justiça seja também ração para a vaidade de galos.