quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A EFICÁCIA DA MAGIA HOJE


Meu amigo Cacau (para alguns Rev. Cláudio Márcio) me perguntou por que a magia, sobretudo essa patrocinada pelas religiões, seria algo tão fascinante e que suscitaria adesões tão apaixonadas ainda hoje. Eu dizia a ele que não tinha muita certeza sobre a razão disto, mas desconfiava que a resposta tivesse a ver com duas palavras: imediatismo e conforto. Hoje eu acrescentaria mais um elemento: significado.
Todas as soluções mágicas para a resolução dos problemas cotidianos prometem ser imediatas. Poupa-se, dessa forma, o tempo considerável em resoluções não-mágicas. E tempo é moeda forte na atualidade, sobretudo quando aplicado como empreendedorismo. Uma das contradições de nossa vida pós-moderna consiste no fato de que trabalhamos e investimos esforços para uma plenitude de vida que está sempre a nossa frente, como uma terra prometida à qual nunca chegamos. Portanto, remir o tempo na solução de nossos conflitos ajuda-nos a manter os passos firmes nesse caminho para um futuro de plenitude (que nunca se realiza!). A magia, por sua promessa de imediatismo, faz todo sentido num esquema como esse.
Ela também nos poupa dos conflitos e dos desconfortos sempre implicados em soluções não-mágicas de dilemas humanos. Ela nos poupa, por exemplo, dos desgastes de um vis-a-vis. Nesse sentido, funciona mais ou menos como aquilo que a psicanálise chamou de “mecanismos de defesa”. Os mecanismos de defesa, segundo Freud, são dispositivos inconscientes cuja finalidade seria proteger o ego do sofrimento. Opera-se essa proteção do ego a partir de uma modificação da realidade. Assim, a pessoa em luto racionalizará a perda de seu parente como tendo sido “a vontade de Deus”, e seu sofrimento terá sido, pelo menos, atenuado. A magia, por evitar um face a face do indivíduo com seu próprio dilema, também tende a protegê-lo dos possíveis sofrimentos de encarar a realidade de forma nua e crua. Ela deposita esse trabalho nas mãos de um Outro mais poderoso: o deus, o espírito, as forças da natureza, ou qualquer Outro Ente em que a pessoa possa creditar a resolução do seu dilema, e ver-se livre do sofrimento de ter que resolvê-lo ela mesma.
A magia também seria uma maneira de imprimir significado a situações confusas. Por meio dela, o indivíduo “compreende” a raiz do seu dilema, e por meio dela também se desresponsabiliza da parte que lhe cabe no aparecimento do mesmo. Grande parte do sofrimento humano está ligado a questões de significado. Por isso são tão frequentes questões como “por que sofro?”, ou “por que isto ocorreu justo a mim?”. E é só significando magicamente a raiz do seu dilema que o indivíduo poderá manipular as forças mágicas na sua solução.  
Não se pode negar aquele aspecto de fascínio que Rudolf Otto apontou como uma das faces do sagrado. O sagrado, conforme Otto, é simultaneamente aterrorizante e fascinante. A magia, por seu pertencimento à esfera do sagrado, também é fascinante. Não acredito que as pessoas de hoje possuam mais dilemas humanos que as de qualquer outro tempo. Mas tudo indica que o objetivo de racionalização radical da vida, buscado pela Modernidade, vai se mostrando fracassado numa pós-modernidade em que o pensamento mágico se vê mais fortalecido a cada dia.

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