segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MARCOS MONTEIRO: UM PESCADOR DE HUMANIDADE

Inspirado no artigo do Pr. Edvar Gimenez, e movido pela passagem do sexagésimo aniversário do Pr. Marcos Monteiro ocorrido no último dia 12 de outubro, publico meu texto-homenagem dedicado a uma das figuras de maior impacto na minha vida.

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MARCOS MONTEIRO: UM PESCADOR DE HUMANIDADE
Conheci Marcos Monteiro no ano de 2001, um ano antes da conclusão do curso teológico no STBNe, em Feira de Santana. Naquele ano, ela havia trabalhado com a disciplina Exegese do Novo Testamento, e havia também formado um grupo de estudos que se reunia todas as segundas-feiras em sua própria casa, no campus do seminário. Nós, que estudávamos no turno matutino – nessa época o STBNe ainda oferecia turmas nos turnos matutino e noturno –, não tínhamos aulas nas segundas-feiras. No entanto, o fascínio imediato que a pessoa de Marcos me provocou, fazia com que eu me deslocasse de Muritiba para Feira de Santana todas as segundas-feiras, a fim de participar das atividades do grupo de estudos.
Àquela altura, pelo menos para mim, o contato com alguns professores do STBNe já havia produzido mudanças profundas na maneira de enxergar a fé cristã e a missão das igrejas na sociedade. Não se tratava apenas de uma teologia interessada em derrubar mitos e questionar convicções alheias. Mas de uma teologia com sabor de vida, interessada nas questões mais urgentes que concerniam à vida concreta das pessoas. Marcos aprofundou essa orientação não apenas com o poder da grande erudição que detém, mas com um estilo de vida simples que nos constrangia e nos inspirava. Sob esse impacto feito à base de carisma, simplicidade e erudição, não tive dúvidas sobre quem escolher como orientador dos estudos monográficos. Os temas da Psicologia já me interessavam a essa época, e em meio a muitas dúvidas e indefinições, Marcos me ajudou a dar corpo a um antigo trabalho sobre o tema da religião na obra de Freud. Lembro-me dos encontros de sexta-feira dedicados à orientação, e de como ele me disponibilizava um bom número de livros de sua biblioteca particular.
Também não posso deixar de mencionar todo o fomento oferecido a mim por Marcos, para que eu prosseguisse nos estudos acadêmicos depois da graduação em Teologia. Na época, o STBNe tentava dar corpo a um projeto de Mestrado em Teologia, e Marcos chegou a me subsidiar com uma parte do seu salário para que eu pudesse realizar o desejo de me dedicar a níveis mais profundos do universo acadêmico, no campo dos estudos teológicos. Um pouco depois, Marcos chegou mesmo a me indicar como candidato a uma bolsa de estudos em Princeton (EUA), algo de que nunca esqueci. Recentemente quis que eu me tornasse presidente da FTL-B (meu Deus, que loucura!), e vez por outra, ainda vive me instigando a publicar as coisas que escrevo. Por todas essas razões, minha formação deve em muito a Marcos, pelo que sou imensamente grato.
Não obstante, Marcos só conheceu Patrícia pessoalmente no ano de 2004, durante um dos encontros regionais da FTL, em Paripueira-AL. Esse encontro, por sinal, foi decisivo para um importante projeto que nos aguardava no futuro. Quem conhece Marcos sabe que ele é um exímio construtor de pontes entre as pessoas. E naquele encontro, Marcos apresentaria a mim e à Patrícia a Wellington Santos e Odja Barros, o que resultaria em uma parceria ministerial alguns anos depois, na Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió. Não por acaso, ele acabaria sendo o orador em nosso culto de posse na Igreja Batista do Pinheiro. Em seu sermão baseado em Mc 5,1-11, nos convidava, a mim e a Patrícia, a sermos “pescadores de humanidade”, tanto naquela comunidade de fé, assim como em toda Maceió, em Alagoas, e onde mais nossa influência pudesse alcançar.
Não foram muitos os momentos em que eu e Patrícia pudemos desfrutar da presença de Marcos em nossa casa. Nossos encontros quase sempre aconteceram e acontecem nos ambientes acadêmicos e eclesiais aos quais estamos ligados. Mas a presença de Marcos sempre nos provocou fascínio, e, porque não dizer, um certo mutismo. Mais do que a complexidade de seu pensamento – e que se entenda complexidade no sentido de Morin, a quem Marcos estima –, é o impacto de sua figura despida das pompas hierárquicas de nosso imaginário pastoral que emudece. Mais do que o prestígio que lhe vem dos livros e artigos acadêmicos que escreveu, é o peso de sua biografia e de suas opções que emudecem. A sensação que temos é a de que Marcos se parece com Jesus de Nazaré, e que o Jesus Histórico deve ter sido assim como ele. E é exatamente isso que emudece. Afinal, em meio ao frenesi religioso de nossos dias, não são muitas as pessoas que nos provocam essa sensação.
A única coisa que eu e Patrícia ainda não lhe perdoamos são os roncos! No final de 2009, tive o privilégio de dividir o púlpito do Acampamento da Família da Igreja Batista do Pinheiro com Marcos. Ficamos hospedados no mesmo chalé: eu, Patrícia e Marcos, separados por uma divisória que nos dava alguma privacidade, mas nenhum isolamento acústico. Eram tão altos os seus roncos que tornavam impossível um segundo de sono. O próprio Marcos, por sua iniciativa, deixou-nos sós, e armou sua rede do lado de fora do chalé, a fim de que pudéssemos dormir tranqüilos.
Brincadeiras à parte, eu e Patrícia somos imensamente gratos à vida por conhecermos Marcos Monteiro. É uma alegria imensa para nós participar desta homenagem nos seus sessenta anos. Muito particularmente, a vida de Marcos para mim é uma fonte de inspiração no que diz respeito ao desafio de depositar fé nas pessoas em quem acreditamos. Falamos muito da fé em Deus, e de todo bem que ela pode fazer à vida das pessoas. Mas falamos pouco dessa capacidade que algumas pessoas têm de manifestar sua “fé no outro”. Sei que esta pode ser uma expressão meio esquisita para um fideísmo atento a palavras heréticas. Mas eu sou uma das muitas pessoas em quem Marcos tem tido fé. Porque é fácil ter fé em Deus, em quem (cremos!) não há imperfeições. Difícil mesmo é ter fé nas pessoas, com suas ambivalências e ambigüidades. Talvez tenha sido por isso que Marcos exortava a mim à Patrícia a fazermos de nossa caminhada pastoral um exercício de pescaria de humanidade: porque é justamente isso que ele mesmo vem fazendo a vida toda, sobretudo no nordeste do Brasil.
Parabéns Marcos, pelos sessenta anos de idade. Você é um presente de Deus e da vida, para mim e para Patrícia.
Paulo & Patrícia Nascimento
Maceió, 18 de agosto de 2011

Um comentário:

Antonio Castro disse...

Lindo texto!!
muito obrigado, sempre quis saber mais sobre a vida de Marcos Monteiro.. desde que um amigo falou-me dele, e especialmente depois que li "Um jumentinho na avenida".
Também fui um jovem seminarista.. concluí.. mas agora curso medicina aqui na UESC e quero dedicar minha vida envolvido com o Cristo dedicando-me ao serviço às vidas.
Abraços.