domingo, 13 de abril de 2014

RAPIDINHA SOBRE "PÚBLICO X PRIVADO" HOJE

Um dos sintomas de nossa cultura atual é um radical movimento em que certas fronteiras, tão nitidamente demarcadas há alguns anos, agora se veem completamente borradas. Uma das mais evidentes é a fronteira entre opúblico e o privado. Foi a cultura moderna que construiu essas duas dimensões da vida. A cultura pós-moderna tem tratado de borrar essas delimitações, em muitas frentes.
Veja o que ocorre, por exemplo, nas chamadas “redes sociais”. De repente, um movimento de hiper-exposição de aspectos antes considerados privados, toma as consciências, e vai se consolidando cada vez mais como um comportamento natural. É a inversão total do panoptismo descrito por Michel Foucault, em que o “olho todo poderoso”, dada sua posição central, exercia vigilância constante sobre os sujeitos em ambientes fechados como as fábricas, as escolas ou os hospitais. No novo panotismo das redes sociais, cada sujeito ocupa o centro da visibilidade, e os aspectos de sua vida privada tornam-se públicos ao clique de qualquer computador alheio.
Está tudo ali. As imagens que antes pertenciam ao mundo privado, as confissões das angústias antes restritas ao consultório ou ao confessionário, as declarações de amor e também de ódio, o status “relacional”, enfim... tudo ali nesse panóptico invertido. Antes das atuais redes sociais, os talk-shows prenunciaram essas mudanças. Neles, a exposição de todo tipo de conteúdo ligado à privacidade das pessoas corria mundo a fora por meio das antenas de TV. De repente, as consciências começam a funcionar em conjunto, num movimento de hiper-exposição que manifesta o borrar das fronteiras entre o público e o privado. Não sabemos mais onde ambos começam e terminam.
Não nos atreveríamos a dizer que o que se passa é bom ou ruim. Para os saudosistas é preciso dizer que as rígidas fronteiras entre o público e o privado, que caracterizaram a Modernidade, também são construções históricas. E não sabemos dizer se sua instauração tornou o mundo melhor ou pior. Certamente estamos diante mais uma contingência histórica, cujos resultados nos são ainda desconhecidos, visto que estamos dentro dessas transições todas.

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