terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A IGREJA COMO COMUNIDADE PROFÉTICA

Esboço do sermão pregado por mim no dia 08/12/2009, no Acampamento da Família da Igreja Batista do Pinheiro, ocorrido em Paripueira-AL.





A IGREJA COMO COMUNIDADE PROFÉTICA

Mateus 7,15-23

INTRO: Na minha última participação como palestrante nesse acampamento, eu gostaria de falar-lhes um pouco sobre o tema da “qualidade profética” de nossas comunidades cristãs. Eu acho que foi o Carlos Queiroz (Ser é o bastante) quem disse que o Sermão da Montanha é uma suma da memória principal que a comunidade primitiva tinha do ensino de Jesus. Ou seja, o Sermão do Monte seria uma espécie de “supra-sumo” (grande resumo) das coisas mais importantes para Jesus de Nazaré, sendo o resto todo dos Evangelhos desdobramentos daquilo. E entre essas coisas, nos aparece aqui o tema do profetismo. Só pra realçar um pouco mais da preocupação primitiva com a qualidade profética das comunidades cristãs, vou ler pra vocês um trechinho do Didaquê... (p. 78). Como vimos, esse era um tema presente e candente naquelas comunidades, mas quase que totalmente ausente de nossas preocupações como comunidades cristãs de hoje.

Portanto, neste texto bíblico lido, prestemos a atenção em quatro coisas:

a) A qualidade profética da comunidade é o tema central da passagem (v. 15);

b) Existem critérios de discernimento para aferir essa qualidade profética, e esses critérios são os frutos práticos dos pretensos profetas (v. 16-20);

c) A falsa profecia é identificada como sendo algo presente na própria comunidade cristã, e não no mundo (v. 21);

d) O mais grave de tudo: ou a qualidade profética da comunidade é autêntica e conforme a memória de Jesus Cristo, o que a une a ele no sofrimento e até no martírio (Mt 5,11-12), ou ela é falsa, e ainda que produza sucesso religioso, separa essa comunidade definitivamente de Jesus Cristo. Não há meio termo (v. 22-23)!

PONTE: Já que o tema da qualidade profética era algo presente na memória mais íntima de Jesus Cristo e das primeiras comunidades, eu desejo propor que ele volte a ser um tema importante para nós, cristãos batistas desse tempo. O movimento evangélico brasileiro fez opção preferencial por tudo quanto é coisa: crescimento numérico (...), carismatismo, prosperidade econômica, poder político, etc. Nós, batistas, também temos nossas opções preferenciais: proselitismo, anticatolicismo, apoliticismo, mentalidade aburguesada, etc. Por que não fazermos opção por uma igreja marcada por qualidade profética? Vou fundamentar minha proposta em Paulo – 1Co 14,3 (não precisa virar ONG!).

1. A COMUNIDADE PROFÉTICA CONSOLA (paraklhsin)

a) Sobretudo numa realidade como a alagoana, nossas igrejas precisam ser comunidades que exalam consolação. Mas, o que é consolar? O que dizemos às pessoas, por exemplo, quando elas perdem um ente querido?

b) Da mesma forma, consolar não é amoldar as pessoas numa atitude fatalista. Mas é mostrá-las (e até convencê-las) de que o seu futuro não precisa ser uma repetição do passado. A pobreza não caiu do céu, não nasceu em árvore, não apareceu por geração espontânea. Assim como ela é um produto da ação humana, a libertação também pode ser. Consolar, portanto, é encher o coração das pessoas de coragem e de esperança na vida;

c) A qualidade profética de uma igreja passa pelo quanto de esperança ela consegue plantar no coração das pessoas!

2. A COMUNIDADE PROFÉTICA EXORTA

a) Esse tópico é tão auto-evidente que não vou me estender muito nele. Nosso próprio apelido religioso deveria nos convencer disso: “protestantes”. Mas como dizia o Roberto Schuler no evento da Aliança no Rio, parece que nos tornamos “conformantes”. A gente só exorta o povo das nossas próprias igrejas: gente que bebe, que faz sexo antes de casar, que não dá o dízimo, gente que gosta do fogo, etc. Aí a gente exorta, até com “Comissão de Ética”;

b) Deixem-me apenas dar um rápido exemplo de uma comunidade profética marcada pela exortação de gente opressora, de gente que vivia de massacrar a vida do povo. Em novembro completou-se 20 anos da morte de seis padres jesuítas e duas religiosas na Universidade Centroamericana José Simeon Canhas...;

c) a qualidade profética uma igreja passa pelo quanto de incômodo ela sente com a opressão e a injustiça, e de quanto ela está disposta a apontar e exortar os opressores à conversão!

3. A COMUNIDADE PROFÉTICA EDIFICA

a) Por fim, a comunidade profética não apenas consola o povo e exorta os opressores, mas ela tem que edificar (construir) alguma coisa. Nela alguma coisa muito boa já vai se tornando visível. Como antecipação do Reino de Deus escatológico, ela edifica novas relações entre as pessoas;

b) Ela edifica novos homens e mulheres e novas relações entre eles. Ela edifica nas pessoas uma nova atitude frente à vida (o caso das restituições à previdência). Ela edifica a proposta social perseguida por todos os grandes modelos sócio-políticos da história e nunca alcançada, que é a igualdade entre as pessoas.

CONCLU: Tomara que um dia nossas igrejas voltem a fazer da qualidade profética um de seus valores fundamentais. Vai ser melhor pra elas. Vai ser melhor pro mundo. Amém!


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