sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

REINVENTANDO A IGREJA


Esboço do sermão pregado por mim no dia 06/12/2009, no Acampamento da Família da Igreja Batista do Pinheiro, ocorrido em Paripueira-AL.





REINVENTANDO UMA COMUNIDADE CHAMADA “IGREJA”

Mateus 5,21-48

INTRO: Hoje eu quero falar de “coragem”! Porque há muito prognóstico sobre a situação sobretudo dos cristãos batistas, dizendo muita coisa. Mas em minha opinião, o que nos tem faltado mesmo é a coragem dos profetas e a coragem de Jesus. Coragem para sermos uma igreja relevante, pertinente, que de fato faça diferença na sociedade. Mas eu não quero que você pense que estou falando da coragem para enfrentar os opressores de nossa sociedade. Embora isso também não possa ser negligenciado, eu estou me referindo é à coragem de romper com aquilo que é opressor dentro de nossas próprias igrejas.

PONTE: Meus irmãos, uma das coisas mais difíceis de fazer é transformar o nosso pensamento dito “natural” sobre as coisas. Quando algo se torna natural para nós, dificilmente mudamos de idéia e de comportamento. Quanto mais se esse natural vem com o “carimbo divino”. Vejamos como Jesus foi corajosamente destruindo essas “naturalidades divinas” no pensamento do povo, e como nós podemos fazer isso hoje.

1. JESUS E A EXEGESE REVOLUCIONÁRIA DIANTE DA LEI

a) Reinterpretou o mandamento sobre os homicídios (21-26); o mandamento sobre o adultério (27-32); o mandamento sobre os juramentos (33-37); o mandamento sobre a vingança (38-42); o mandamento sobre a geografia do amor (43-48);

b) Engraçado que Jesus, ao proceder essa exegese revolucionária, não fazia nada novo. Os profetas haviam feito o mesmo: Isaías existencializou o jejum (58,6-14); Oséias existencializou os sacrifícios do Templo (6,6); Amós existencializou a prática do culto (21-27); só pra ficarmos com esses exemplos;

c) O que eu desejo dizer meus irmãos, é que a melhor forma de transformarmos nossa igreja numa comunidade revolucionária, não é olhando para os problemas de fora, mas olhando primeiro os de dentro por meio de uma nova leitura da Bíblia que ponha em cheque nossas convicções tão arraigadas. Foi o que Jesus fez com o povo;

2. UM PEQUENO PROGRAMA DE REVOLUÇÃO PARA NOSSA FÉ

a) Um exemplo prático sugerido por L. Boff, em Ética e ecoespiritualidade (p. 73-84). Depois, minhas sugestões pessoais;

b) “Ouvistes o que foi dito aos antigos: o homem é o cabeça da mulher; Eu porém vos digo: na comunidade do Reino ninguém é cabeça de ninguém, pois Cristo é o único cabeça, e todos nós, homens e mulheres, somos seus membros e uns dos outros”. A igreja deveria ser, antes de qualquer outra instituição, o lugar de vanguarda pela paridade de gênero. Mas o pior de tudo não o silêncio cristão sobre essas questões: o pior de é que com sua teologia de jerico, ela ajuda a naturalizar as desigualdades de gênero;

c) “Ouvistes o que foi dito aos antigos: somente aqueles e aquelas que se enquadrarem na nossa perspectiva de conversão serão membros da igreja; eu porém vos digo: a igreja, como comunidade do Reino, abrirá suas portas e receberá TODOS aqueles e aquelas que assim desejem a ela se agregar, pois o juízo sobre qualquer ser humano cabe somente a Deus, e não à igreja”. Eu tenho um sonho nesse quesito: que os estatutos de nossas igrejas, na seção sobre a admissão ao rol de membros, se baseie na Parábola da rede. Leiamos: Mt 13,47-50;

d) “Ouvistes o que foi dito aos antigos: o Espírito Santo age somente na igreja e por meio da igreja; eu porém vos digo: o Espírito Santo é vento que sopra onde quer, age onde quer e por meio de quem quer”. Harvey Cox, um dos grandes teólogos batistas de nosso tempo, dizia que o dever maior da Teologia (e por que não dizer, de nossas igrejas) deveria ser o de reconhecer onde o espírito profético estava atuando no mundo, e apoiar a isso;

e) “Ouvistes o que foi dito aos antigos: serão chamadas de co-irmãs somente as igrejas batistas da mesma fé ordem; eu porém vos digo: serão chamados de co-irmãos todos aqueles movimentos e grupos, religiosos ou não-religiosos, que lutam pela vida, por uma sociedade mais justa e fraterna, pelo cuidado com a natureza, e pela paz entre os povos”. Aqui a coisa é séria irmãos. Se Deus tem algum representante nessa terra, é preciso coragem e humildade pra reconhecer que tem mais dessa gente por aí, para além dos muros de nossas igrejas;

3. REINVENTAR PRA QUE, AFINAL?

a) Muita coisa já se tentou no nosso meio. Muitos esboços de reinvenções. O problema é que nenhuma delas teve coragem de ir aos fundamentos. Era o Nietzsche quem dizia que “vai-se ao fundo sempre que se vai aos fundamentos”. Jesus foi aos fundamentos, e por meio de uma exegese revolucionária reinventou a fé para o povo;

b) Portanto, precisamos reinventar nossas comunidades por que:

(1) No fundo, lá no fundo, nem nós mesmos não agüentamos mais esse estado de normose (Jean-Yves Lelup). Normose (normal + neurose = normose) é quando alguém vive um estado patológico como se fosse a coisa mais normal do mundo. É quando o doente não mais se reconhece doente, pois aquele estado para ele é o natural;

(2) “Ouviste o que foi aos antigos: a igreja é o lugar de preparar as pessoas para a eternidade; eu porém vos digo: a comunidade chamada igreja deve ser já um ensaio da Nova Humanidade, que mostra ao mundo que a justiça, o amor, a fraternidade, a dignidade, não são utopias irrealizáveis, mas são objetivos alcançáveis, aqui, agora e sempre”. É isso que a gente quer: sermos “as primícias” da Nova Humanidade. Mas para isso é preciso muita coragem!

CONCLU: Amém!

Um comentário:

Neilton Azevedo disse...

Paulo meu amigo,graça e paz. Seu sermão poderia tranquilamente ser acrecentado aos muitos existentes no texto bíblico. Não como um texto intocável, mas para atender aos anseios desse tempo em que vivems. Poderiamos ter o prazer de citar Paulo apóstolo Tiago e Paulo nascimento Capítulo ? e Versículo?. Eu adoraria pregar um sermão baseado nesse texto.
Grande abraço. Neilton