segunda-feira, 11 de junho de 2012

THE GARDEN - By Rush

The measure of a life is a measure of love and respect
So hard to earn, so easily burned
In the fullness of time
A garden to nurture and protect

The treasure of a life is a measure of love and respect
The way you live, the gifts that you give
In the fullness of time
Its the only return that you expect

Clipe com tradução

sábado, 2 de junho de 2012

A “HERMENÊUTICA DA TORTURA” DE SILAS MALAFAIA


Não tenho nenhum problema em assumir que já gostei de Silas Malafaia. Eu o ouvi pela primeira vez em 1998, já na fase dos DVDs. Lembro-me exatamente a primeira mensagem que ouvi daquele pastor. Era uma reflexão sobre legalismo. Malafaia me chamou muito a atenção por mostrar uma postura diferente no contexto da Assembleia de Deus – igreja conhecida pelo seu rigor quanto aos chamados usos e costumes.
Mas também não tenho nenhum problema de dizer que faz tempo que Malafaia deixou de ser um pastor interessante para mim. Infelizmente, hoje o vejo como mais um subproduto de uma mentalidade evangélica com a qual não me identifico em qualquer aspecto. Malafaia frustrou as esperanças de quem achou que sua ruptura com os padrões históricos da Assembleia de Deus iria apresentar alguma novidade interessante dentro do protestantismo brasileiro. Esperávamos um pentecostalismo inteligente, engajado, dialógico, que no fervor do Espírito Santo pudesse trazer um renovo genuinamente brasileiro ao nosso protestantismo. O que vimos aparecer? Uma reprodução caricatural da pior versão do evangelicalismo norte-americano. Justamente aquela que se pauta na voracidade por dinheiro e por poder político-midiático.
Recentemente Malafaia desafiou blogueiros e “críticos” a refutarem suas posições sobre prosperidade. Exibiu uma mensagem em que fala sobre o assunto, e desafiou seus desafetos a apresentar-lhe supostos erros teológicos. Interessante é que Malafaia não abre nenhum canal para o debate. Não dialoga com ninguém. Desafia os críticos, mas não senta à mesa com eles, nem os convida para uma conversa franca em seus programas na TV. Vocifera na segurança dos estúdios e dos púlpitos. Mas teme o calor de um papo com gente madura. É soberano nos monólogos. Nada mais.
Não me alongarei numa resposta à sua fatídica exposição de 2Co 8 e 9. Não é preciso refutá-la ponto a ponto, pois quando algo está contaminado desde a raiz, a obviedade da podridão do resto é notória. Antes, é preciso reconhecer que Malafaia não possui mesmo outra alternativa. A fim de sustentar toda estrutura religiosa que lhe circunda e lhe beneficia – exposta em seu nababesco estilo de vida –, é preciso torturar o texto bíblico para que ele fale não a sua própria verdade, mas a verdade que o torturador procura. Como um torturador empunha as suas ferramentas e faz gemer o torturado a fim de produzir uma verdade a qualquer custo, Malafaia empunha suas lentes hermenêuticas prévias a fim de que o texto produza uma verdade-mentira. O que temos? Um sujeito arguto violentando textos e mentes.
Malafaia despreza todos os elementos contextuais de 2Co 8 e 9. A palavra “contexto” não aparece uma só vez em sua fala. E que contexto é esse? É o contexto de uma coleta efetuada por Paulo, a fim de socorrer a comunidade cristã de Jerusalém, que passava por um momento de grande necessidade.
Paulo escreve aos coríntios e lhes apresenta o exemplo de como haviam procedido os cristãos da Macedônia nesse tocante, mostrando grande generosidade diante da difícil situação dos pobres de Jerusalém. Toda a argumentação de Paulo nos capítulos 8 e 9 de 2Co é um esforço de fazer os coríntios se integrarem numa corrente de solidariedade. Não há nesses capítulos nenhuma “doutrina” sobre dízimos e ofertas. Não há nenhuma “lei de semeadura”. Há, outrossim, a descrição de uma experiência de solidariedade. Há uma exposição de um apóstolo que calejava as mãos produzindo tendas, e cujo coração se comovia com a situação dos pobres e necessitados de Jerusalém. Há alguém que acreditava no poder da solidariedade, e que argumentava em favor dela, dizendo que solidariedade produz solidariedade.
Malafaia subverte a compreensão mais rudimentar do que seja a Graça de Deus. Subverte aquela compreensão basiquinha da Graça como um “favor imerecido”. Pois se o favor de Deus é equivalente às ofertas “semeadas” (isto é, dadas em dinheiro à igreja!), tal favor já não é imerecido. Na verdade, já nem é mais favor. É fruto de barganha. Não é Graça, mas des-graça. É mesmo inexplicável que Paulo tenha ensinado acerca das “leis da semeadura” e tenha permanecido um operário, um fazedor de tendas durante a vida.
Malafaia comete um equívoco semelhante ao que o pentecostalismo fez com Atos 2: o equívoco de institucionalizar uma experiência. O pentecostalismo fez das experiências do Dia de Pentecostes, descritas em Atos 2, um Dogma. Exigiu sua replicabilidade como critério da genuína experiência do Espírito. Enclausurou as amplas possibilidades do agir do Espírito no carisma do “falar em línguas”. Empobreceu por completo a sua própria experiência pneumatológica. O Espírito, obviamente, foi soprar em outros movimentos da sociedade. Malafaia comete o mesmo erro na sua tortura a 2Co 8 e 9. Engessa e dogmatiza uma experiência pontual. Empobrece aquilo que poderia ser potencialmente disparador de uma espiritualidade solidária. A experiência de solidariedade humana é, desse jeito, revivida em outros arraiais. Alguns não-cristãos. Outros anti-cristãos. Glória a Deus!

A hermenêutica da tortura operada por Malafaia em 2Co 8 e 9 é irônica e trágica. Irônica, pois trata-se de um televangelista rico, numa sociedade capitalista, apropriando-se e torturando textos de um apóstolo pobre, de uma sociedade pré-capitalista. Trágica, pois aquilo que poderia ser fundamento de uma espiritualidade da solidariedade, tão urgente em nossos dias, torna-se fomento para uma teologia diabólica, em que Deus é constrangido a prosperar indivíduos em seus desejos egoístas e consumistas.

domingo, 20 de maio de 2012

ESTIGMA


Você sabe o que é um estigma? Sabe o que significa ser uma pessoa estigmatizada? Na manhã do domingo 20/05/2012, na Igreja Batista do Pinheiro, eu parti do texto de João 9,1-3, para falar de como a igreja cristã deve tratar aqueles que são estigmatizados pela sociedade. O título da mensagem foi EstigmaEntendo como um escândalo o fato de que instituições da sociedade civil tratem os estigmatizados de nosso tempo com mais amor e mais acolhimento que as comunidades evangélicas. 


Confira esta mensagem CLICANDO AQUI!


Abraços !!!

terça-feira, 24 de abril de 2012

UM ANO DEPOIS...


Na próxima terça-feira (01/05) eu e Patrícia completaremos um ano na Igreja Batista do Pinheiro (IBP). Temos duas sensações que parecem contraditórias: o tempo passou muito rápido, mas sentimos que pertencemos a essa comunidade há muitos anos. Não estávamos na IBP, mas parece que a IBP já estava em nós há muito tempo. Gostaríamos de dizer aqui o quanto estamos felizes, depois de um ano, em fazer parte dessa comunidade Batista tão especial.
Não podemos negar todo temor que nos invadiu quando recebemos o convite para fazer parte da IBP. Pastoreávamos uma pequena igreja que nos amava e a quem amávamos. Vivíamos em paz com todos, sem conflitos e sem pressões. Por que mudar? A IBP era uma comunidade “famosa”, por sua história e pelos pastores que por aqui passaram. Era uma igreja, pensávamos, da classe média, diferente da igreja de onde víamos, pertencente à periferia. A IBP era pastoreada por um casal diferenciado pastoral e teologicamente. Quão difícil foi fazer essa decisão!
Hoje, depois de um ano por aqui, sentimos uma leveza, uma alegria e uma paz que só podem ser frutos do Espírito Santo. Descobrimos que essa comunidade é mais comum do que pensávamos. Descobrimos que ela é ao mesmo tempo progressista e tradicionalista, libertária e conservadora, profética e sacerdotal. Descobrimos uma comunidade plural do ponto de vista sócio-econômico, intelectual e espiritual. Há muita gente aqui com “sede de justiça”, e há muita gente cuja fé é intimista, apenas voltada para os seus próprios dilemas.
Depois de um ano podemos dizer: o diferencial positivo da IBP está na aceitação da pluralidade, ao passo que na maioria das igrejas evangélicas impera a uniformidade imposta, disfarçada de unidade.
Depois de um ano, estamos encantados com isso tudo! Estamos encantados o amor, com o respeito, com o cuidado e com o acolhimento que aqui encontramos. Nosso sincero sentimento depois de um ano é de profunda alegria e satisfação. Hoje temos absoluta certeza que fizemos a opção correta, e que a mesma foi coordenada pelo Espírito de Deus. Que o Espírito do Senhor continue a nos guiar, como indivíduos e como comunidade. Afinal, “todos que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8,14).
Pr. Paulo & Patrícia Nascimento
* Texto do boletim dominical da IBP em 29/04/2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

CONVERSAS SOBRE O CORPO, A CIÊNCIA E A RELIGIÃO


Ou "Como voltei, enfim, para a Religião"


Para Jorge Nery

Em minha trajetória acadêmica, sempre tive enorme dificuldade para escolher temas de pesquisas. Os TCCs que escrevi foram sempre precedidos por demoradas batalhas interiores pela busca do tema que, além de executável, me trouxesse alegria e satisfação em sua produção. Estou entre aqueles que creem que o prazer deve preceder e perpassar qualquer atividade intelectual. Ler por obrigação, pesquisar por obrigação, é tão insuportável quanto o trabalho forçado a que as pessoas se submetem, movidas pela necessidade de sustentarem a si mesmas.
Também estou entre aqueles que sofrem de um mal extremamente pernicioso à vida acadêmica: o mal do foco dividido. Freud diria que, no fundo, essa indecisão e esse foco dividido são marcas sintomáticas dos neuróticos. Elas teriam lá suas motivações inconscientes, que somente o trabalho terapêutico poderia trazer para a luz da consciência. Para meu consolo, a neurose em Freud, ressalvada a dimensão de desconforto e de sofrimento psíquico que ela possa nos infringir, é quase uma condição de normalidade da existência. Como diria Jean-Yves Leloup, vivemos sempre em estado de normose, isto é, nossa normalidade é a neurose. O setting analítico, portanto, vai ter que me esperar um pouco mais.
Agora, às portas de uma nova etapa da caminhada acadêmica, vejo-me outra vez constrangido a ter que obedecer a prazos quanto à escolha de um campo temático de estudos. Dura tarefa a de ter que eleger um objeto de estudos ao qual vamos nos dedicar pelos próximos dois anos, e ter que rejeitar o mundo inteiro. Consola-nos apenas o fato de que tais correntes que nos atam são temporárias, e que, embora por esses anos elas apertem nossos braços com muita força, mais ali à frente elas se quebrarão e o mundo inteiro estará de volta à nossa disposição (certamente com novas correntes em suas mãos).
Todavia, um passo muito importante já foi dado. Não há reflexão sobre qualquer objeto que não se dê a partir de certas lentes que nos precedem. Há tempos o mito da neutralidade científica foi relativizado. Portanto, o primeiro passo na determinação de uma pesquisa científica deve consistir na escolha do modo de olhar os objetos, no modo de interroga-los, no modo de aproximação a eles. Creio ter resolvido esse problema quando decidi me situar num jeito de fazer pesquisa que pressupõe que o discurso – sobretudo o científico –, mais do que aquilo que “desvela” ou “representa” o real,constrói as realidades acerca das quais pretende discursar. Dessa forma, o discurso científico insere-se no campo das práticas sociais como uma prática entre outras.
Uma prática acadêmica e científica que se propõe desveladora do real e com o potencial de representação dos objetos do mundo se situará sempre acima de outros discursos que destoem dos seus próprios. Assim, o correlato dessa produção de saber será uma hierarquização dos conhecimentos, que torna as pessoas da academia e os cientistas arautos de verdades epistemologicamente superiores às verdades do dito “senso comum”. Decidi me situar fora dessa pretensão, ao assumir que minha atividade acadêmica e científica corrobora o feixe de relações presentes no tecido social que vão construindo – muitas vezes naturalizando – isso que chamamos de “realidade”. Fazer ciência é uma prática social como qualquer outra.
Nos últimos cinco anos, utilizei alguns instrumentos oferecidos pelas ciências humanas e sociais – especialmente pela Psicologia Social – para pensar sobre o estado de Alagoas em sua relação com a economia de matriz canavieira. A eleição desse objeto de estudos havia sido feita muito mais com base em minha vivência pessoal de pastor do que em critérios puramente intelectuais. Alguém já disse acertadamente que “a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”. Neste tempo, os dilemas comunitários de uma vila no entorno de uma usina sucroalcooleira me catapultaram para o universo de temas envolvendo a vida política, econômica e cultural de Alagoas. Lembro-me de ter feito uma primeira incursão a esses temas com os referenciais da Teologia da Libertação – pensando no tema daidolatria de mercado –, para logo depois me munir de outros instrumentais de análise.
Tempo fecundo, que me legou coisas interessantes. Além de uma ação pastoral voltada especialmente para os dilemas advindos desse contexto, esse tempo me legou uma grande produção de artigos, organizados posteriormente em forma de livro, cujo projeto já foi aprovado pela editora da Universidade Federal de Alagoas. Além disso, esse tempo me legou dois estágios importantes: um em Psicologia Social Comunitária, realizado junto a trabalhadores da referida usina, e outro em Psicologia Educacional Escolar, realizado em uma escola da rede municipal situada também na referida comunidade de moradores no entorno de uma usina sucroalcooleira. Finalmente, esse tempo me legou uma pesquisa de Iniciação Científica, ainda em curso, cujos objetos foram os modos de vida, os processos de subjetivação e as possibilidades de resistência no contexto de uma comunidade canavieira em Alagoas. Isso sem contar as inúmeras amizades que permanecem até então, e uma enormidade de experiências cativantes e enriquecedoras.
Meus pés, entretanto, agora pisam outro chão.
Dentre o mundo de possibilidades que se abrem agora, e que podem ser transformadas em objeto de pesquisa, volto-me com algum interesse especial para os temas da sexualidade em sua interface com os discursos religiosos. Sempre evitei – por razões que nem eu sei discernir direito – os temas religiosos na academia, com exceção, obviamente, do tempo da formação em Teologia. Na Filosofia flertei com os temas da Epistemologia, da Educação e da Filosofia da Ciência, sempre em diálogo com Edgar Morin. Acabei de descrever meu itinerário de preocupações não-religiosas dentro da Psicologia. Agora, decidi fazer da religião novamente objeto de preocupação acadêmica. Obviamente, não desejo tomar a religião em si mesma, como faz boa parte dos teólogos. Desejo toma-la como fenômeno social. Volto à religião, mas não para fazer Teologia. Teologia a gente vai fazendo na vida, na comunidade de fé. E os seminários teológicos que me perdoem, mas não há melhor escola de Teologia do que uma comunidade de fé que se abre a dialogar com as demandas concretas de seu tempo.
Interessa-me, por agora, pensar naquilo que alguém já chamou de “governo dos corpos”. Supõe-se com rapidez que a religião opere com muita eficácia em “governo das almas”. Mas não há uma coisa sem a outra. Foucault, por exemplo, chamou ao poder religioso da Idade Média e da Modernidade de poder pastoral. Este seria uma espécie de governo das almas, com vistas à salvação do rebanho. Seria um poder perscrutador da intimidade do governado, mas que implicaria também numa entrega sacrificial do governante. “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”, já dizia a sabedoria do Evangelho.
Creio que Max Weber nos mostrou que, ao operar um governo religioso das almas com sua teologia de predestinação, o calvinismo dos séculos XVII e XVIII acabou por produzir uma ética que se tornou correlata ao desenvolvimento do capitalismo emergente. Qualquer discurso produz efeitos que escapam às intencionalidades de seus enunciadores. Estudar os efeitos dos atuais discursos religiosos de governo do corpo é o que vislumbro fazer a partir de agora.
Esse governo religioso das almas está na base também, junto com a contribuição de outros discursos de nossa cultura ocidental, do tipo de sexualidade que se tornou normativa e hegemônica entre nós. Pensando estritamente no campo da sexualidade, nossos corpos ainda são governados por uma teia maciça de discursos religiosos que lhe disputam. É preciso termos em mente, contudo, que este governo dos corpos não é em hipótese alguma exclusivo da religião. O bem-viver dos corpos saudáveis, a longevidade biológica, a normatividade estética dos corpos perfeitos, são exemplos de discursos que disputam nossos corpos. Quase sempre eles são sancionados pelo conhecimento científico. Neste sentido, compete-nos perguntar: que diferença haveria entre um governo dos corpos e da sexualidade exercido pela religião, e outros tipos de governo dos corpos, tais como os que exemplificamos?
Talvez um esboço de resposta seja este: a diferença consiste em que o governo dos corpos operado pela religião se assente no discurso do sagrado, do absoluto, que muitas vezes, sem qualquer justificação além do direito de governar que caberia ao sagrado (transferido aos seus representantes humanos), precisa enfrentar um campo de objeções mais árduo, numa cultura marcada pelo pluralismo religioso e cultural; enquanto isso, o governo dos corpos operado pelos discursos do “bem-viver” escoam numa base laica, que em nome de uma “qualidade de vida” não enfrentam as mesmas objeções, possuindo um caráter maior de unanimidade, já que representam um princípio moral “universal”.
Interessa-me, obviamente, as formas capilares, cotidianas, minúsculas, microfísicas, com que a religião opera seu governo sobre os corpos e sobre a sexualidade. Contudo, um fato novo de nossa época, ao menos no Brasil, vem capturando a minha atenção com mais força: a utilização da plataforma político-institucional como vetor desse governo religioso dos corpos. Estaríamos diante de uma das novidades da Pós-modernidade, que é o retorno da influência do religioso na arena da política de estado, uma vez que a Modernidade confinou sua importância à esfera privada da vida.
Os estados laicos devem ser regidos por princípios livres de quaisquer ideologias religiosas, embora essas tenham livre oportunidade de governar a vida de seus adeptos. O atual uso da plataforma política como forma de governo religioso dos corpos e da sexualidade inverte essa configuração: aquilo que era próprio do governo da vida privada de sujeitos que se submetiam livremente a certas ideologias religiosas, passa a ganhar forma de estratégia política de governo dos corpos de todos. Como isso é possível em um estado laico? Estaríamos diante de uma anomalia e de uma contradição do uso da democracia, ou diante de uma de suas possíveis virtualidades?
Ditas essas coisas, meu atual interesse de pesquisa se situa num campo de “lutas transversais”, no campo da subjetividade, lutas pelo direito à diferença, lutas contra o imperialismo da norma e da uniformidade dos modos de vida. Ao falar sobre o governo dos corpos e de sua docilização, Foucault dizia que o objetivo destes era esvaziar o corpo de sua potência política e maximizar sua força produtiva, porque somente um corpo dócil pode ser produtivo. O problema que colocamos é de outra natureza. Acreditamos que o tipo de governo dos corpos e da sexualidade presente em certos discursos religiosos opera outro tipo de docilização e de esvaziamento: o esvaziamento de suas possibilidades éticas, entendidas aqui como “cuidado de si” e como todas as virtualidades presentes na conduta que os sujeitos podem fazer de suas próprias existências e de seus corpos.
O campo recoberto pelos discursos religiosos de governo político dos corpos é mais vasto que o campo estrito da sexualidade. As discussões da bioética envolvendo o aborto, a eutanásia, a utilização de células-tronco embrionárias, a produção de alimentos transgênicos estão aí como prova. Contudo, numa pesquisa cientifica é preciso demarcar territórios com clareza. Logo essas possibilidades investigativas estarão à minha disposição. Por hora, é preciso fazer recortes mais precisos, e o campo da sexualidade parece bastante instigante pra início de conversa. Afinal, ars longa vita brevis!

terça-feira, 10 de abril de 2012

OFICINA SOBRE MISSÕES URBANAS


Olá queridos irmãos e irmãs!

Convidamos a toda IBP e interessados para uma oficina sobre Missões Urbanas. Será no próximo sábado (14/04), das 8:30h às 12:00h. Essa oficina será uma preparação para a 1ª Campanha Missionária da IBP em 2012, e será ministrada por mim.

TEMA DA OFICINA: O desafio de reconhecer, celebrar e anunciar o Reino de Deus na cidade.

PÚBLICO-ALVO: MASMissões, todos os membros da IBP e qualquer interessado (qualquer faixa etária).

DIA/LOCAL/HORA: Sábado 14/04/2012, no Templo da IBP, das 8:30h às 12:00h

FACILITADOR: Pr. Paulo Nascimento

PROGRAMAÇÃO
8:30h – Chegada
9:00h – Momento devocional
9:15h – Palestra: “O desafio de reconhecer, celebrar e anunciar o Reino de Deus na cidade”
9:45h – Debate
10:15h – Intervalo e coffee-break
10:30h – Dinâmica “Ver-Julgar-Agir”
11:00h – Construção de Painel Temático
12:00h – Encerramento

Caso você tenha algum desses materiais, indicamos as seguintes leituras prévias à oficina:

COMBLIN, José. Viver na cidade: pistas para a pastoral urbana. 2ª ed., São Paulo: Paulus, 1996

_______. Diakonia na cidade. In: ANDRADE, Sérgio & VON SINNER, Rudolf (orgs.). Diaconia no contexto nordestino: desafios – reflexões – práxis. São Leopoldo: Sinodal, 2003

LONGUINI NETO, Luis. A missão é da igreja e a agenda é do mundo. In: ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL (org.). Religião, utopia e sociedade: diálogos com Martin Luther King Jr. e Richard Shaull. Livro.com: Lauro de Freitas, 2009

MONTEIRO, Marcos. A cidade de Deus na cidade do homem. In: Um jumentinho na avenida: a missão das igrejas na cidade. Viçosa: Ultimato, 2007

REVISTA ESTUDOS BÍBLICOS. Projetos bíblicos de evangelização. Vol 31, Petrópolis: Vozes, 1991

ZWETSCH, Roberto. Missão – testemunho do evangelho no horizonte do reino de Deus. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph (org.). Teologia prática no contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, 2005

terça-feira, 3 de abril de 2012

VOCACIONADOS PARA A VIDA!


O filósofo Martin Heidegger é autor de um aforismo famoso que diz: “O homem é um ser para a morte”. Para Heidegger, a morte seria uma espécie de vocação absoluta do ser humano. À luz da nossa fé, diríamos que ele está “meio certo”. A morte é mesmo uma certeza inescapável de nossa existência. Mas para nós, que cremos na ressurreição, ela não é o único absoluto que a tudo relativiza.
No Domingo de Páscoa devemos renovar nossa fé na ressurreição. Na Bíblia, entretanto, esta fé significa muito mais que a vitória sobre a morte pessoal. Segundo Paulo, a ressurreição de Jesus foi o primeiro dia da Nova Criação (1Co 15,20-28). Por isso, a esperança pela ressurreição não deve ser uma atitude individualista de quem quer “viver para sempre”, mas deve ser a força que nos impele para a criação de um Novo Mundo. A Nova Criação começa agora, com homens e mulheres renascidos pelo poder da ressurreição de Jesus Cristo. A ressurreição escatológica é o clímax dessa Nova Criação que já começou em Cristo e em nós.
Infelizmente, nossa cultura faz de tudo para que nos distanciemos do real significado da Páscoa. O capitalismo a transformou em mais uma data para aquecer o mercado. Mas as raízes desta festa têm a ver com a misericórdia de Deus atendendo ao clamor de gente escravizada, conforme a narrativa do Êxodo (Ex 3,7; 12,1-28). Para ser fiel às suas origens, a Páscoa Cristã também deve ser uma celebração da ação de libertadora de Deus no mundo, iniciada com a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Por isso, não desvinculemos a morte e a ressurreição de Jesus das suas opções de vida. A ressurreição de Jesus não é um dogma nem uma doutrina. Ela é a expressão da insistência de Deus em um projeto de defesa da vida dos oprimidos. Ela é a aposta de Deus de que a Nova Criação pode começar a partir de nós.
E se comecei essa pastoral citando um filósofo, quero terminá-la citando outro: “Somente onde há sepulturas pode haver ressurreições” (F. Nietzsche). Que a ressurreição de Jesus Cristo nos tire de nossas sepulturas pessoais como fez com o casal a caminho de Emaús (Lc 24,13-35), e nos fortaleça para levar vida e amor a um mundo marcado pelos poderes da morte e do ódio. Nós somos seres vocacionados para a vida!
* Texto do boletim dominical da Igreja Batista do Pinheiro (Maceió-AL) em 08/04/2012