domingo, 19 de julho de 2009

APERITIVO DE “O DISCIPULADO E O INDIVÍDUO” (D. BONHOEFFER)




Segue outro aperitivo de Discipulado, do Dietrich Bonhoeffer (1906-1945). Trata-se da seção O discipulado e o indivíduo (p. 49-55).

Aqui discernimos os seguintes tópicos:

a) O acesso ao discipulado como um ato solitário, onde o indivíduo enxerga apenas aquele que lhe fez o chamado:

“O chamado de Jesus ao discipulado faz do discípulo um ser solitário. Quer queira quer não, tem que se decidir, tem que tomar sua decisão sozinho. Não é solitário espontaneamente; Cristo é que faz do homem chamado um ser solitário. Cada qual é chamado individualmente, e tem que ser discípulo sozinho. (...) Cristo quer que o homem fique só, que nada mais enxergue senão aquele que o chamou (p. 49)”.

b) Cristo é apresentado como Mediador não somente entre Deus e o homem, mas entre o homem e o homem, e entre o homem e toda a realidade:

“Com sua encarnação, Cristo colocou-se entre mim e as relações com o mundo. Já não posso recuar; ele está de permeio. Privou àquele que foi chamado da relação imediata com tais circunstâncias. Ele quer ser o mediador e tudo há que se processar através dele. Não se coloca apenas entre mim e Deus, mas está igualmente entre mim e o mundo, entre mim e os outros homens e coisas. Ele é o Mediador, e isso não somente entre Deus e os homens, mas também entre homem e homem, e entre o homem e a realidade” (p. 50).

c) No discipulado dá-se o fim de todas as relações imediatas, principalmente em relação às pessoas, desde as mais próximas até as menos próximas:

“Agora, porém, sabe que já não podes ter relações imediatas nem nos laços mais estreitos das relações humanas, nos laços de sangue com pai e mãe, com os filhos, irmãos e irmãs, no amor conjugal, nas responsabilidades históricas. Desde Jesus, já não existem para os seus discípulos quaisquer relações imediatas naturais, históricas ou empíricas. Entre pai e filho, marido e mulher, entre o indivíduo e o povo, ergue-se Cristo, o Mediador, quer consigam reconhecê-lo quer não. (...) A relação imediata é uma ilusão. (...) Cada relação imediata, consciente ou inconsciente, é ódio a Cristo, ao Mediador, até mesmo e em especial quando quer ser considerada cristã” (p. 51).

d) Toda relação imediata, toda ação de graças e todo conhecimento sobre os dons de Deus sem a mediação de Jesus Cristo são ilusórios:

“A mais amável tentativa de compreensão, a psicologia mais sofisticada, a franqueza mais natural, não conduzem ao outro; não há qualquer relação imediatas entre as almas. Cristo é Mediador, e somente através dele é que há caminho para o próximo. (...) Não há qualquer conhecimento verdadeiro dos dons de Deus sem o conhecimento do Mediador, por amor do qual tão-somente eles nos são dados. Não há nenhuma ação de graças genuína por povo, família, história e natureza sem profundo arrependimento que dá a Cristo exclusivamente a honra suprema” (p. 52).

e) O exemplo de como tudo isso se deu em Abraão, no episódio do quase-sacrifício de seu filho Isaque:

“Abraão volta da montanha na companhia de Isaque, tal como subira; tudo, porém, estava mudado. Cristo se colocara entre pai e filho. Abraão tinha abandonado tudo e seguira a Cristo. E, a meio do discipulado, se lhe permite tornar a viver no mundo em que antes vivera. Exteriormente, tudo ficara como dantes. Porém, as coisas antigas já passaram e tudo se fez novo. Tudo tivera que passar através de Cristo (p. 53)”.

f) Todos entram no discipulado sozinhos, mas ninguém permanece nele solitário:

“O mesmo Mediador, porém, que nos fez indivíduos solitários, constitui também o fundamento de uma comunhão totalmente nova. Ele está entre mim e os outros. Separa, mas une também. É certo que, assim, fica cortado todo e qualquer caminho imediato de mim para qualquer outro; o discípulo, porém, aprende o novo e verdadeiro acesso ao semelhante, que, a partir de agora, passará através do Mediador. (...) Todos entram sozinhos no discipulado, mas ninguém fica sozinho nele” (p. 54).



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