terça-feira, 13 de outubro de 2009

LANÇAMENTO E DIVULGAÇÃO DE LIVRO‏


Olá minha gente boa!

Nos últimos dias 08, 09 e 10 de outubro estivemos reunidos em Salvador, na Igreja Batista da Graça, participando do encontro teológico Transformando a Missão: Justiça, Espiritualidade e Cidadania. Muita coisa boa ocorreu por lá nesses dias. Eu resumiria tudo em alguns tópicos ligeiros: (1) o prazer inefável de estar na Bahia; (2) o reencontro com amigos de longa data, a quem não víamos a muito tempo; (3) excelentes palestras e oficinas debatendo o sentido da missão eclesial no Nordeste; (4) o acesso a muita literatura teológica de qualidade indiscutível.

No meio disso tudo a Aliança de Batistas do Brasil lançou sua segunda publicação. Depois do grande sucesso de Quatro frágeis liberdades (2005), agora chegou a vez de Religião, utopia e sociedade - Diálogos com Martin Luther King Jr. e Richard Shall. O livro oferece ao grande público os resultados do 1º Fórum Protestantismo, Teologia Pública e Relevância Profética, realizado no Rio de Janeiro em 25 e 26 de maio de 2007. A mim coube a transcrição das falas e a Apresentação do livro. Mais abaixo, segue o texto da Apresentação, e caso você se interesse pelo livro, entre em contato comigo.

Se você desejar saber mais sobre a Aliança de Batistas do Brasil, clique aqui: www.aliancadebatistas.com.br. Caso queira conferir o layout do livro, clique aqui: www.editoralivro.com.br.

Ah, o livro custa apenas R$ 20,00.

Um abraço!

APRESENTAÇÃO

Uma leitura para fazer “arder o coração”

É com grata satisfação que a Aliança de Batistas do Brasil traz agora ao alcance de um público maior as comunicações do primeiro fórum Protestantismo, Teologia Pública e relevância profética em diálogo com as éticas sociais de Martin Luther Jr. e Richard Shaull, realizado na cidade do Rio de Janeiro durante os dias 25 e 26 de maio de 2007. O livro que o leitor e a leitora têm em mãos consiste na versão textual das falas ali apresentadas. Um dos objetivos técnicos dessa publicação consistiu em preservar o caráter informal e espontâneo de cada palestra. Por isso, os textos se apresentam num formato suavizado em relação à formalidade acadêmica. Não obstante, todo trabalho de transcrição textual de comunicações orais implica em uma intrusão mínima do redator. Consciente disto, nosso trabalho seguiu na tentativa de uma intrusão não-conteudística, mas atida aos aspectos formais da apresentação dos textos, com mínimas reformulações conceituais ali onde a clareza está prejudicada pelos improvisos e imprecisões da comunicação oral.

O primeiro capítulo nos oferece uma reflexão exclusivamente dedicada à atividade e ao pensamento de Martin Luther King Jr. (MLK). Nela, Israel Belo de Azevedo, pastor batista e ex-reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, está interessado em responder acerca de qual seria o legado e qual o significado da obra de MLK. Além disso, está interessado em refletir acerca de quais respostas MLK daria às questões mais prementes de nossa agenda atual, uma vez que vivenciamos uma configuração conjuntural inteiramente nova. Israel Belo de Azevedo apontará ainda para três rupturas no pensamento e na atuação de MLK frente a consagradas dicotomias do universo teológico e pastoral: ação versus oração, erudição versus piedade, e ministério local versus ministério nacional. Privilegiando aspectos biográficos e peculiares à personalidade de MLK, Israel Belo de Azevedo ainda trará para a discussão alguns elementos presentes na vida deste pastor batista estadunidense considerados pertinentes para aqueles e aquelas que se ocupam da atividade pastoral em nosso contexto brasileiro.

No segundo capítulo o Dr. Ken Sehested estabelece um diálogo crítico entre o imperialismo estadunidense no século XX e a denúncia profética de MLK, convocando-nos a partir disso à insistência nos projetos utópicos do Evangelho. Partindo de exemplos de sua própria experiência prática, assim como da análise de eventos históricos relacionados à política internacional estadunidense no século XX, Ken Sehested procura nos mostrar de que maneira os sonhos e as imposições dessa política internacional foram se constituindo como pesadelos para o resto do mundo, sobretudo para o Oriente Médio e para a América Latina. MLK aparece aí como voz crítica e profética de contraponto à este imperialismo tocado sob as marcas do racismo, do militarismo e do materialismo. O Dr. Ken Sehested ainda denunciará uma certa domesticação da memória de MLK, ocorrida nos Estados Unidos, e nos lembrará que a obra e o pensamento deste ainda nos serve como forma de afirmação das possibilidades utópicas do Evangelho em nosso contexto atual.

Raimundo César Barreto, pastor batista e presidente do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr., nos trará no terceiro capítulo uma reflexão preocupada igualmente com os legados teológicos de MLK e de Richard Shaull. Nosso autor faz questão de iniciar sua comunicação com algumas pontuações acerca da Aliança de Batistas de Brasil como entidade ecumênica, libertária, dialógica e comprometida com a justiça social. Conforme o mesmo, são essas marcas que colocam a Aliança de Batistas do Brasil em estreita ligação com os legados daqueles dois homens. Em seguida, sua contribuição nos brinda com uma reflexão acerca do status propriamente teológico de MLK e Richard Shaull. Na linha de José Casanova e David Tracy, Raimundo César Barreto entende que MLK e Richard Shaull podem ser compreendidos, já em sua época, como “teólogos públicos”. Seguindo ainda o construto teórico de Gramsci relativo às funções dos intelectuais orgânicos, dirá que ambos também podem ser compreendidos como “teólogos orgânicos”. Na sequência, Raimundo César Barreto nos coloca em contato direto com alguns dos principais tópicos do pensamento teológico de MLK e Richard Shuall, a fim de que estes nos ajudem no resgate da relevância da teologia na nossa ação prática perante a sociedade.

No quarto capítulo, o cubano Francisco Rodez (Fraternidade Batista Cubana) desenvolve uma sucinta meditação bíblico-teológica sobre o tema da utopia e do reino de Deus. À luz dos legados de MLK e Richard Shaull, Francisco Rodez nos apresenta um exercício de leitura bíblica que deseja ser eficaz como contraponto a um suposto realismo e a um suposto fim das possibilidades utópicas que busca espaço na mentalidade latino-americana. Este autor também nos apresenta de forma simples, mas não simplista, as razões do fracasso do projeto socialista em países como Cuba. Nesse sentido, além da militância político-ideológica, os anseios pessoais e os valores familiares são valorizados como elementos necessários à construção de um mundo novo. Em sua meditação, Francisco Rodez também deseja evitar toda atitude triunfalista que se poderia deduzir de um projeto de utopia cristã. Remete-nos à crucificação de Jesus de Nazaré como exemplo de um projeto utópico fracassado. Mas também nos remete à sua ressurreição como afirmação de todas as possibilidades utópicas inerentes ao símbolo “reino de Deus”.

Abigail Evans, professora do Seminário Teológico de Princeton, dedica sua meditação especialmente a Richard Shaull. Neste quinto capítulo ela nos oferece um esboço biográfico desse pastor presbiteriano cuja atuação deixaria marcas indeléveis na história do protestantismo brasileiro e na própria teologia cristã latino-americana. Dando ênfase aos contornos políticos que marcaram a sociedade brasileira a partir da década de 1960 – sobretudo em função do golpe militar de 1964 –, a autora evoca as ênfases centrais de um pensamento e de uma práxis notadamente marcada por tensões internas em relação à Igreja Presbiteriana do Brasil, caracterizada à época pela rigidez doutrinária e pelo conservadorismo político. Abigail Evans também trabalhará com a tese de que os elementos fundamentais daquilo que futuramente se articularia com uma Teologia da Libertação – a crítica profética das injustiças sociais, a vocação ecumênica, o chamado às comunidades eclesiais a assumirem sua vocação histórica como vetores de libertação, e etc. – têm seus brotos já no pensamento e na atuação de Richard Shaull.

No sexto capítulo, Roberto Schuler, pastor da Igreja Reformada da Suíça e atual reitor do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, nos oferece mais do que uma simples reflexão: ele nos oferece um desabafo e um chamado a que o protestantismo brasileiro reencontre suas matrizes proféticas e verdadeiramente “protestantes”. Denunciando um espírito de conformismo e resignação como próprio do protestantismo brasileiro atual, Roberto Schuler busca fundamentar sua crítica tanto na tradição do profetismo veterotestamentário quanto numa rica tradição profética presente na própria história do protestantismo. Sua reflexão dedica espaço especial para uma crítica das posturas reacionárias adotadas pelas igrejas protestantes brasileiras durante o regime militar que se instalou no Brasil a partir de 1964, em confronto com a postura crítica tanto de outras igrejas como de outros atores da sociedade civil. Roberto Schuler também dedicará espaço em sua reflexão para propor os eixos fundamentais de uma teologia pública, que, segundo o autor, além do envolvimento com as questões sociais, deve assumir como valores a relevância e as possibilidades dos riscos inerentes à sua concretização.

No penúltimo capítulo deste livro Luis Longuinni Neto, pastor presbiteriano ligado ao Instituto Mysterium, partirá da prática pastoral de MLK e Richard Shaull para pensar em elementos fundamentais a uma teologia da missão. Sua tese de partida consiste em que “a missão é da igreja, mas a agenda é do mundo”. Luis Longuinni Neto faz questão de acentuar a dimensão pastoral presente na práxis tanto de MLK e Richard Shaull, a quem adjetiva de “duas vocações rebeldes”. Dessa dimensão pastoral presente nestas vocações rebeldes, ele deriva alguns elementos que considera pertinentes e necessários a uma teologia da missão em nosso contexto. Entre tais elementos o autor destaca o sofrimento dos pobres como ponto de partida da missão, a tarefa ecumênica, o diálogo com a teologia prática e com uma pastoral relevante, e a busca pela formação de cristãos conscientes.

Encerrando o conjunto de textos deste livro, o teólogo cingalês Devaka Premawardhana nos oferece uma discussão intercalando temas da Teologia Negra e da Teologia das Religiões. Em consonância com as intuições de James Cone, o autor procura estabelecer um diálogo crítico entre o pensamento de MLK e de Malcolm X. Devaka Premawardhana entende que nestas personagens existem tanto elementos favoráveis como desfavoráveis à construção de uma Teologia Negra que seja pertinente em face dos dilemas raciais ainda candentes em nosso tempo. No que tange à Teologia das Religiões, o autor buscará por contribuições na própria tradição protestante. Seu olhar crítico enfatizará a atitude etnocêntrica característica das missões protestantes chegadas ao Brasil em meados do século XIX. Nesse sentido, a grande provocação de Devaka Premawardhana consistirá numa ousada hipótese missiológica que assume a presença do Espírito de Deus nas culturas mundiais, antes mesmo da presença missionária representante dos centros de poder econômico. Para o autor, a atitude de MLK junto a Gandhi deve se constituir como paradigma das relações entre os cristãos e as pessoas pertencentes às demais religiões. Dessa forma, Devaka Premawardhana preconiza uma atitude reinocêntrica como item central de uma Teologia das Religiões que contribua na construção de relações fraternas entre as culturas humanas.

Nossa esperança, em primeiro lugar, é que esta publicação comece a preencher a grande lacuna existente no universo editorial evangélico brasileiro no que tange aos legados teológicos de Martin Luther King Jr. e Richard Shaull. Mas como Aliança de Batistas do Brasil, nosso desejo não se circunscreve à mera inserção no mercado de literatura teológica. Portanto, em segundo lugar, nosso objetivo terá sido alcançado se este livro que o leitor e a leitora têm em mãos servir-lhe como vetor de inquietação. Mais do que um saber teológico academicamente sistematizado, as páginas que se seguem dão testemunho de dois legados teológicos construídos no calor de posicionamentos muito concretos. Falo de uma teologia excepcionalmente feita à base de confrontos, rupturas, riscos, ameaças, mas também feita à base de uma inquebrantável esperança fundada na certeza da presença confortante de Deus. Se esta leitura lhe fizer “arder o coração” (Lc 24,32), ainda que minimamente, nosso objetivo terá sido alcançado.

Paulo Nascimento

Maceió-AL, 20 de agosto de 2009



Um comentário:

Leonardo Abreu disse...

quero o livro. como faço?

leopabreu@yahoo.com.br